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Artigos • 21 fev, 2023

OS FISCAIS DE FANTASIA


(por Lygia Maria) – 

Carnaval é a grande festa popular da quebra de regras, não da imposição de novas

O governador da Bahia postou, no Twitter, uma lista de fantasias proibidas no Carnaval. Entre elas, a de indígena. Seria desrespeitoso se apropriar de seus trajes, transformando essa cultura em estereótipo. A revista de moda Vogue também embarcou na onda: quem não tem ascendência asiática, indígena ou africana não pode se vestir de gueixa, usar cocar ou turbante.

A origem dessas cartilhas censórias é o movimento identitário, que insiste em enfiar política em qualquer aspecto da vida cotidiana, até chegar ao disparate de racionalizar uma festa popular que se baseia justamente na quebra da razão, que remonta à “festa dos loucos” (festum stultorum, em latim) na Idade Média, e à Saturnália, na Roma Antiga.

Durante essa última, as barreiras sociais eram abolidas, senhores serviam escravos e escravos vestiam-se de senhores. Tribunais eram fechados, jogos de azar autorizados. A zombaria corria solta. Do mesmo modo no período medieval, como descrito por Mikhail  Bakhtin, para quem o uso de máscaras e fantasias era um modo de dissolver a individualidade cotidiana no meio da multidão.

omo diz a canção: “A gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho pra fazer a fantasia de rei, ou de pirata, ou jardineira, e tudo se acabar na quarta-feira”.

O Carnaval é a grande festa popular da quebra de regras, não da imposição de novas. Censurar fantasias é, portanto, um desatino histórico e antropológico. Mandem as regras às favas! Divirtam-se.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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