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Artigos • 21 jul, 2024

Sexualidade na política brasileira (Juan Arias)


A política brasileira está cada vez mais colorida pela sexualidade. Quer seja o ex-presidente Jair Bolsonaro ou o progressista Lula da Silva, ambos medem frequentemente a sua força política com linguagem sexual. Na extrema direita, Bolsonaro cunhou o termo imbrochável . Foi o grito que ele soltou em discurso em praça pública enquanto beijava sua mulher, a evangélica Michelle , e perguntava se ele alguma vez havia falhado com ela.

Ao entregar a medalha de imbrochável a Milei, ele entendeu muito bem e até fez a brincadeira de mexer as nádegas. É verdade que agora alguém avisou a Bolsonaro que esta comparação sexual também pode indicar que ele não cederá politicamente, que continuará a sua luta mesmo que acabe na prisão. Quer continuar sendo a bandeira da extrema direita no Brasil, já ligada à extrema direita global.

Sempre se soube da força que a sexualidade teve na cultura brasileira, fundamentalmente sensual pela sua história e costumes. Basta lembrar dos carnavais, os mais ousados sexualmente do mundo. Lembro-me de um artigo que Mario Vargas Llosa escreveu neste jornal após ter participado de um desfile de carnaval na Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro. “A questão é, Juan”, ele me disse, “eles fizeram sexo ao ar livre lá”.

O curioso é que essa liberdade sexual que caracteriza a sociedade brasileira está contaminando a linguagem da política, tanto de direita quanto de esquerda. E a direita usa-o como coringa para defender os valores mais conservadores, a tal ponto que hoje a maioria das mulheres vota pela direita e a maioria dos cidadãos já está contra o aborto e contra a legalização de pequenas drogas.

Leonardo Avitzer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, escreveu que “o que está acontecendo não é que os brasileiros sejam hoje mais conservadores no campo moral, mas que eles se identificam cada vez mais com a direita”. Se no passado a questão da liberdade sexual era atribuída sobretudo à esquerda, depois da chegada de Bolsonaro com sua linguagem mal-humorada ela também é contaminada pela até ontem modesta direita, que segundo o bolsonarismo tem que ser aquele imbrochável , enquanto a esquerda acredita que para governar bem não é preciso ser jovem, mas sim ter vigor sexual.

Tudo isso às vésperas das eleições municipais do próximo mês de outubro, que estão sendo consideradas tanto um teste para as eleições presidenciais de 2026, já que nestas eleições municipais Lula e Bolsonaro voltarão a medir a sua força eleitoral nas urnas, e elas servirão de enquete para medir a envergadura atual da esquerda e da direita.

(Transcrito do El País)




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