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Artigos • 15 out, 2023

Vejo que boa parte das pessoas que amam Deus odeiam os humanos


(por Ricardo Araújo Pereira, na FSP)

Quando observo o fanatismo dos crentes, me sinto satisfeito de ser ateu porque, de certo modo, contribuo com a paz

Em junho de 1973, em um jantar de Estado feito na visita de Willy Brandt a Jerusalém, a primeira-ministra de Israel, Golda Meir, fez esse discurso:

“Deixe-me dizer uma coisa que nós, israelitas, temos contra Moisés. Ele vagueou conosco pelo deserto durante 40 anos apenas para nos trazer para o único lugar do Oriente Médio que não tem petróleo.”

De fato, aquela região não tem petróleo, o que é um azar e uma bênção. Um azar porque o petróleo vale dinheiro, e uma bênção porque o petróleo está na origem de várias guerras.

Não tantas, no entanto, como o produto em que aquela região é rica: o amor a Deus.

Tenho visto que boa parte das pessoas que amam Deus odeiam os seres humanos. Tendo em conta que foi Deus que criou os seres humanos, isso é como ser devoto do McDonald’s e odiar hambúrgueres.

Jerusalém é território sagrado de judeus, cristãos e muçulmanos. Amam a terra, odeiam-se mutuamente. Adoram pedras, abominam pessoas.

Às vezes, mesmo as pessoas que amam o mesmo Deus não se entendem. Ou seja, uns odeiam por acharem que os outros amam o deus errado, mas também há quem odeie por acreditar que os outros amam o deus certo da forma errada.

Entre os que acreditam em Alá, os sunitas não se entendem com os xiitas. Há vários tipos de cristãos, todos convencidos de que a sua é a única fé.

A divergência não precisa ser grande. O grande cisma se deu porque a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa discordam em uma palavra a menos no credo e um ingrediente a mais no pão. Uns rezam que o Espírito Santo procede do Pai, os outros rezam que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Uns acham que a hóstia deve levar fermento, os outros acham isso impensável.

Foi esse o motivo do divórcio, em 1054. Passaram quase mil anos, mas eles continuam sem chegar a um consenso.

E o horror em nome de Deus vai prosseguindo, como voltou a acontecer nestas semanas.

Imagino que Deus, existindo, esteja muito orgulhoso de tudo isso. Que pai não gostaria que os seus filhos se chacinassem mutuamente para decidir quem o ama mais e melhor?

Confesso que, quando observo o fanatismo desses crentes, me sinto satisfeito de ser ateu. Até porque, de certo modo, contribuo com a paz. Uma das poucas coisas que todos os fanáticos concordam é: eles, sem exceção, me odeiam também.




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