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Brasil • 30 set, 2018

Eleição leva desavença às relações


Na mesa do happy hour um assunto colocou água no chope das amigas: a eleição presidencial. Unidas em torno do candidato João Amoêdo (Novo), elas evitam comentar o destino dos seus respectivos votos em um eventual segundo turno. “No bar, tentamos não tocar no assunto. Já tem muita discussão no trabalho, na família, no grupo do WhatsApp…”, diz a bancária Tayna Moraes, de 21 anos.

Em uma eleição já marcada por atos de violência, ódio e irracionalidade, as desavenças entre amigos, parentes e colegas de trabalho podem parecer algo menor, colateral e até anedótico. Mas o psicanalista Jorge Broide (USP) não pensa assim.

“Essa é uma consequência séria do ambiente eleitoral. Os núcleos familiares e relações de amizade são os primeiros a se romper em situações de polarização acirrada”, diz Broide. “Como o debate político não está no cotidiano das pessoas é comum que a posição ideológica de quem está ao nosso lado nos surpreenda e cause repulsa. A convivência com quem pensa diferente, na intimidade, é muito difícil”, completa o psicanalista.

É raro encontrar alguém que não tenha uma história de desavença para contar. Na família da pesquisadora Beatrys Fernandes, de 26 anos, a discussão ganhou caráter religioso. De família mórmon, ela viu o pai e o tio brigarem de forma acalorada. “Um dizia que aquilo que um candidato defendia não estava nas escrituras. O outro afirmava que o que o candidato dizia não feria a religião deles”, diz.

A socióloga S.F. (que pediu para não ter o nome publicado) afirma que se assustou com o comportamento de um amigo que “mandava memes defendendo a direita e querendo brigar durante a própria lua de mel”. “Na lua de mel!”, repetiu.

O especialista em relações internacionais Andrey Pereira Brito, de 28 anos, diz que uma amiga o convidou para ser padrinho de seu filho porque trocou xingamentos com o original por motivos eleitorais. “Ela não queria que a filha tivesse um padrinho que vota em determinado candidato.”

Justiça

A repulsa em relação ao posicionamento político do outro pode render mais do que uma cara feia. O advogado Felipe Mendonça, de 40 anos, atende a dois clientes que estão processando agressores virtuais. “Não pode tudo nas redes. Não pode racismo, não pode xenofobia. Tenho dois clientes que foram agredidos moralmente por demonstrarem apoio a determinado candidato”, afirma.

“Com as redes sociais, ampliou-se em nossa sociedade uma relação de troca de favores – quando você curte um post de alguém você está fomentando essa troca de favores. E se a outra pessoa não corresponde à sua visão de mundo, ao seu candidato, você reage com violência, como se tivesse sido traído”, observa o filósofo Roberto Romano, da Unicamp.

“O Brasil é um País com uma sociabilidade violenta. Nós sempre tivemos potencial para um tipo de discurso de ódio. Agora, nessa eleição, politizaram esse discurso”, diz a cientista política Esther Solano (Unifesp), organizadora do livro Ódio Como Política.

Alheio às teorias sobre política, o garçom Pedro Paulo Chicarelli, de 38 anos, afirma estar preparado para intervir em caso de descontrole. “Felizmente, ainda não precisei me meter”, diz. Mas, quando todo mundo vai embora, Chicarelli e outros garçons levantam as mesas, começam a recolher as garrafas e… “Vixeee, a briga aqui é séria.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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