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Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Crônicas

Crônicas • 11 maio, 2025

Para as mães


de Luiz Claudio Oliveira – 

Às que parem e às que cuidam e criam

Dor de mãe
(Para as mães que tiveram filhos assassinados)

É dor que não passa nunca
A dor que se repete a cada amanhecer
Após a insônia
Uma dor sem consolo
Uma dor que devora
A dor da morte
Uma dor que quase mata
Companheira de vida
Só cessará depois do fim
Uma dor assassina

Por maior que seja a dor
Só não é maior que o amor de mãe
Amor de mãe não é assassinado junto com o filho
Por amor ela vive além da dor
Em busca de vingança ou justiça
Que surja entre as mortes

Mesmo havendo Justiça, a dor continuará
Por baixo da venda da deusa Têmis
Há uma lágrima de mãe

Vera puxa seu carrinho
Pelas ruas hostis
Remexendo nos restos
Das entranhas de Curitiba
Limpando a cidade que a despreza
Que também a jogaria fora
Para que alguém a catasse
E a levasse para longe dos olhos
Que agora a seguem
Olhares de nojo
De reprovação
Um entulho
Como os que enchem o carrinho
De roda bamba
Tábuas soltas
Um instrumento de trabalho
Precário como a vida de quem o leva

Um mendigo bêbado entrega a Vera uma lata de cerveja
Ela a recebe quase com nojo
Responde ao sorriso dele com um olhar de desaprovação
Quando ele se afasta, trôpego
Ela sente um tanto de raiva
Um tanto de pena
Um tanto de amor
Muito de culpa e vergonha
Pergunta-se onde errou
Por que permitiu
Que seu filho
Aquela criança curiosa e brincalhona
Viesse a se transformar
Naquele mendigo bêbado

O muro

Mãe e filho olham o muro
Ela fora
Ele dentro
Ela sente culpa pelo alívio
Ele faz planos para matá-la

Super

Mulher maravilha
Homem aranha
Mocinha amarrada no trilho
Nem precisa armadilha
A batalha já está ganha
Amo a criança que és
A brincar com nosso filho

Acordou com uma sensação de plenitude
Houvesse felicidade, certamente seria assim
Uma noite bem dormida depois de um amor bem feito
A espreguiçada trouxe consigo o incômodo da barriga avantajada
Um incômodo com amor
Carregado de incertezas
Aquele ser que lhe habitava
Que era seu e não era
Que, no entanto, já a envolvia de amor
Era um sentimento pleno, vivo como as duas vidas ali presentes, inafastável
Alimentaria de amor pela vida toda
Assim como o alimentava agora com seu próprio corpo
Porém sentimento e razão não se dominam um ao outro
Seguem caminhos que nem sempre são os mesmos
Enquanto o sentimento seguia plano, largo, seguro, bem demarcado
A trilha da razão era cheia de encruzilhadas não demarcadas, subidas e descidas íngremes, escorregadias
Ali ela se sentia perdida
Não sabia ao certo nem o ponto de partida, quanto mais se haveria fim nessa trilha sinuosa e perigosa
“Assim é a vida. Reaja! É preciso ser forte!”
Repetia agora o que costumava ouvir de sua mãe na distante Terra, em uma periferia de um distante país periférico chamado Brasil
Isso foi ainda antes da chegada
Quando o peso de humilhações, abusos e preconceitos curvavam seus ombros de menina e arrancavam lágrimas
Quando ela pensava em se acostumar a viver curvada e chorando
As palavras estavam ali, presentes, mesmo quando sua mãe já não estava mais
“É preciso força para ser forte”, retrucou ainda criança, arrancando um sorriso e um abraço da mãe, que então era da mesma idade dela agora
“E é preciso ser forte para ter força”, ouviu como resposta
“Mas se ficar encurvada, chorando e não reagir, não terá forças para ser forte, nem será forte para ter força”
A afirmação óbvia formou um sorriso suave de saudade daquele momento de uma outra vida
Sim, agora precisava ser forte não mais apenas por si, mas pelo ser que a habitava e que logo teria sua própria vida cheia de incertezas e de um amor infinito. Fonte – Blog do Zé Beto




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