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Política • 12 maio, 2019

Menos inflação na mesa – Editorial do Estadão


Com os preços da comida subindo mais devagar, a inflação atormentou as famílias um pouco menos em abril e a tendência parece confirmar-se em maio. Esta é uma das poucas notícias positivas do noticiário econômico, ainda carregado de informações muito ruins sobre o emprego, o consumo e a produção industrial.

Os primeiros quatro meses do novo governo foram muito difíceis em quase todas as frentes da economia. No lado interno, os negócios permaneceram emperrados. No externo, as exportações têm perdido impulso e o superávit comercial tem diminuído. Mas pelo menos o orçamento familiar ficará menos pressionado, se a inflação continuar a acomodar-se e convergir de novo para a meta anual de 4,25%. Entre março e abril a chamada inflação oficial passou de 0,75% para 0,57%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As taxas acumuladas no ano (2,09%) e em 12 meses (4,94%) ainda são muito altas, mas parece confirmar-se a tendência de arrefecimento prevista há algum tempo pelo Banco Central (BC). O custo do item alimentação e bebidas, principal motor do IPCA nos primeiros meses do ano, começa a perder impulso. Em abril, subiu 0,63%, menos de metade da taxa contabilizada no mês anterior, de 1,37%. Esse item, o mais importante na composição do índice, contribuiu em março com 0,34 ponto da taxa total de 0,75 ponto. Em abril, o impacto ficou em 0,16 ponto.

Impactos maiores tiveram os itens transportes (0,17 ponto) e saúde e cuidados pessoais (0,18 ponto). Este último componente refletiu o reajuste anual de remédios, em vigor desde 31 de março. Itens de higiene pessoal e planos de saúde também foram reajustados. A partir de maio, esse fator, obviamente sazonal, deixa de impulsionar o IPCA. Medicamentos mais caros já estarão incorporados no orçamento das famílias e naturalmente afetarão o bem-estar dos consumidores, mas deixarão de impulsionar o conjunto dos preços.

O IPCA é calculado com base no orçamento médio de famílias com rendimento mensal de 1 a 40 salários mínimos. Mas o IBGE acompanha também a inflação das famílias mais modestas, com ganho mensal de até 5 salários mínimos. Esse grupo foi especialmente sacrificado pelo forte aumento dos preços da comida nos trimestre inicial.

A partir do mês passado, também os consumidores dessa faixa de renda foram beneficiados pela acomodação, ou início de acomodação, do custo dos alimentos. Em março, o item alimentação e bebidas havia encarecido 1,50%. Em abril, o aumento ficou em 0,64%, menos de metade da taxa do mês anterior. Principalmente graças a esse fator, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), baseado nos gastos da faixa mais modesta, subiu 0,60% em abril, ou 0,17 ponto menos que no mês anterior.

O arrefecimento da inflação foi mostrado também pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em seu Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Esse indicador é formado por três componentes: preços por atacado, preços ao consumidor e custo da construção, com pesos de 60%, 30% e 10%. A alta do IGP-DI passou de 1,07% em março para 0,90% em abril. No mês passado, os preços por atacado subiram 1,09%, bem menos que no mês anterior (1,35%). No caso dos preços ao consumidor, a taxa de variação recuou muito limitadamente, de 0,65% para 0,63%. Já o custo da construção ganhou impulso, passando de 0,31% para 0,38%.

A melhor notícia apareceu nos preços por atacado, no subgrupo alimentos in natura, com aumento de 0,50% em abril. Em março, a alta havia sido de 8,13%. A ampla acomodação no atacado indica menor pressão sobre os preços de consumo nos meses seguintes.

Diante dos sinais de inflação mais suave, o BC pode manter os juros básicos em 6,50% por mais um bom tempo. Essa taxa foi mantida pela nona vez na reunião de política monetária encerrada na quarta-feira. Juros contidos facilitam, em princípio, a tarefa do governo de motivar os empresários a ativar negócios e contratações. Falta a resposta do governo.




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