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Política • 29 jul, 2024

Regime manipula resultado novamente, levando Venezuela a ser pária internacional


(por Sylvia Colombo, da FSP) –

Vitória de Maduro inaugura uma fase de autoritarismo ainda mais extremo no país sul-americano

Aconteceu novamente.

Desta vez, foi mais aberrante e mais escandaloso o novo anúncio de uma “vitória” eleitoral do regime comandado por Nicolás Maduro. Enquanto respeitadas sondagens independentes davam uma vitória de Edmundo González Urrútia por mais de 30 pontos percentuais, o CNE anunciou que o ditador havia ganhado mais um pleito.

As consequências de médio e longo prazo são, neste momento, incalculáveis. Aumento do fluxo de venezuelanos saindo do país, retorno dos grandes protestos ou a volta a uma apatia total. O certo é que esse resultado não significa apenas a continuidade de um regime, mas inaugura para a Venezuela uma fase de autoritarismo ainda mais extremo, ao estilo de Cuba e Nicarágua.

Porém, se olharmos os detalhes, o regime agiu como sempre tem feito, pelo menos desde 2013, quando o sucessor de Chávez se anunciou vitorioso num já polêmico embate com o opositor Henrique Capriles.

Desde o início da semana, Jorge Rodríguez, o líder da Assembleia Nacional e grande estrategista do chavismo, já dizia que o resultado do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) seria respeitado, mas com o sorriso sarcástico que sempre o caracterizou. Para meio entendedor, meia palavra basta. O resultado seria manipulado. Novamente.

No início da jornada, o chavismo esteve relativamente silencioso, deixando que a oposição se animasse, divulgando uma presença massiva aos centros de votação e um apoio emotivo a Edmundo González em seu fusca amarelo e a María Corina Machado sendo ovacionada em seus passeios em moto por Caracas.

Depois, começaram as táticas de sempre, o atraso na divulgação de números, líderes históricos do chavismo tratando a oposição como força desestabilizadora, cantando vitória antes da hora e afirmando que apenas a “revolução” traria paz e era democrática.

O resultado desta jornada foi muito parecido ao das eleições da Assembleia Nacional Constituinte, em 2017. Durante o dia, havia ficado claro que sua criação não iria ser aprovada pelas urnas. O país vinha de três meses de protestos contra o governo, e a oposição sequer participou do pleito. De modo escancarado, se podia notar que a população rejeitava a proposta.

Até que, encerrada a jornada, Maduro declarou que as urnas ficariam abertas até mais tarde, para que todos “tivessem a chance de expressar seu voto”. O tempo de prorrogação serviu para esconder e manipular a vontade popular. Ao final, Rodríguez falava de aprovação massiva ao projeto e começou uma maratona de shows comemorativos diante do palácio de Miraflores, muito antes da divulgação de resultados. Igualzinho a como ocorreu na noite deste domingo.

Ao longo da campanha eleitoral, as estratégias da ditadura foram as mesmas.

Afirmaram que respeitariam o acordo de Barbados, mas não aceitaram a candidata escolhida pela oposição em primárias, impediram uma observação eleitoral independente, perseguiram e prenderam opositores, invalidaram votos, urnas e centros inteiros de votação. O de San Antonio de Táchira, por exemplo, ficou aberto das 10am às 11am, depois fechou, com uma multidão do lado de fora gritando “queremos votar”, “queremos votar”.

Como se chegou a esse ponto?

Já se passaram 32 anos desde que o então tenente-coronel Hugo Chávez Frías (1954-2013) liderou uma tentativa de golpe de Estado contra o governo de Carlos Andrés Pérez (1922-2010). É preciso lembrar que, naquela época, a insatisfação popular crescia contra uma gestão que não soube enfrentar uma grave crise econômica e diversos escândalos de corrupção. Era latente a insatisfação popular, que foi expressada no famoso “Caracazo“, em 1989, uma rebelião que durou nove dias e terminou numa brutal repressão que levou a 276 pessoas mortas..

A Venezuela estava a ponto de uma explosão social, e o modelo bipartidista, em que a AD (Ação Democrática) e a Copei (Comité de Organización Política Electoral Independiente) dava claros sinais de não conseguir responder mais às demandas populares. Vale ressaltar que a política era exercida, então, por uma classe política elitizada, em que pouco tinha voz a população mestiça, indígena e afro-venezuelana.

Depois de abandonar a opção golpista, Chávez levou suas propostas às urnas, saindo-se vencedor em 1998, e assumindo no ano seguinte.

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