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Política • 05 maio, 2021

Teich defende planejamento para compra de imunizantes que ainda estão em teste


Na CPI da Covid-19, ministro diz que não tinha autonomia ou liderança à frente do Ministério da Saúde.

O ex-ministro da Saúde e médico oncologista Nelson Teich voltou a dizer que não tinha autonomia ou liderança à frente da pasta, a qual sofria ingerência e entraves do presidente Jair Bolsonaro. A afirmação foi feita nesta quarta-feira (5), durante depoimento de quase sete horas à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, no Senado.

Ao ser questionado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) sobre visões diferentes de médicos em relação a “tratamento precoce”, ele disse que não há comprovação científica no uso de medicamentos como prevenção à covid-19.

Diante da escassez de vacinas, Teich defendeu que o país se planeje para comprar imunizantes que ainda estão em teste. Segundo ele, algumas das 26 vacinas em “fase 3″ podem ser as melhores opções no futuro.

Teich contou que teve quatro reuniões com o presidente Jair Bolsonaro ao longo do período de quase um mês em que esteve à frente do ministério. Ele disse que não discutiu o programa de testagens com o presidente nem uma estratégia de comunicação do governo federal.

Segundo Teich, o uso maior de máscaras e atenção às medidas de isolamento social na época em que esteve comandando à pasta implicaria em eficiência maior do sistema de saúde pública e consequente diminuição da letalidade da doença.

“Quando eu falei que não tinha autonomia, eu não tinha autonomia nem liderança. Em situações como a covid, quando se tem uma situação (para o País todo), precisa-se de liderança e coordenação”, disse à comissão.

Em resposta à senadora Leila Barros (PSB-DF), Nelson Teich disse que a busca por “imunidade de rebanho” fracassou em todos os lugares onde foi adotada, no início da pandemia. “Imunidade vem da vacinação, e só”, afirmou.

Eduardo Pazuello

Teich afirmou que o general Eduardo Pazuello contribuiu para a pasta enquanto ocupava o cargo de secretário-executivo do Ministério da Saúde, mas criticou sua posição enquanto ministro.

“Eu acho que ele fez o papel dele. Contribuiu, sim [como secretário-executivo]. Lembro da gente buscando respiradores antes de irem para distribuição. A gente tentou trabalhar essa distribuição, porque aquele momento era bem difícil. Estava faltando no mundo, era uma competição mundial por EPIs [equipamentos de proteção individual], por respirador, e eu via atuando dedicado e conseguindo entregar as coisas”, disse Teich.

Na sequência, contudo, criticou Pazuello ao assumir a posição de titular do ministério. “Na posição de ministro, seria mais adequado um conhecimento maior sobre gestão de saúde”, avaliou.

Teich afirmou que teve autonomia para formar a equipe do ministério, com exceção de Pazuello na secretaria-executiva. “Mas todas as outras secretarias foram todas mantidas em nível técnico”, explicou.

O ex-titular falou da Saúde, ainda, se havia interferência feita pelo governo federal em sua gestão. “A única coisa que tinha uma discussão era sobre cloroquina. Inclusive quando eu entrei, nunca teve uma coisa específica sobre tentar interferir no que eu fazia”, discursou.

Teich saiu do cargo 29 dias após assumir o Ministério. Seu sucessor foi o general da ativa Eduardo Pazuello. Questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) se o general foi imposto, negou. “Se ele tivesse sido imposto eu sairia em uma semana ao invés de um mês”, afirmou.

O ex-ministro disse no início do depoimento que deixou o governo por ter percebido que não teria autonomia para conduzir a pasta. Ele afirmou que não sabia da produção de cloroquina pelo Exército e  que sua orientação sempre foi contrária ao uso desse e de outros medicamentos sem comprovação científica no enfretamento da crise sanitária.

Segundo Teich, que ficou menos de um mês no cargo, “existia um entendimento diferente pelo presidente” Jair Bolsonaro, fato que motivou sua saída do comando da pasta.




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