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Artigos • 19 out, 2023

DIVOC ( no ‘Estadão’)


(por Carlos Castelo) – 

Num (não tão) belo dia, mais um dilema se abateu sobre o planeta Terra: o retorno da pandemia. Dessa vez, teve lugar a Divoc, a Covid ao contrário.

No mundo microscópico, a notícia se espalhou mais rápido do que malware em rede de computador desprotegida.

A OMSV, Organização Mundial da Saúde Virótica, lançou um comunicado decretando o isolamento de todo e qualquer microrganismo aos seus domicílios, proibindo qualquer circulação no meio-ambiente. Somente os lactobacilos dos probióticos poderiam ir e vir.

As máquinas de costura dos ínfimos seres vivos trabalhavam noite e dia, produzindo nanomáscaras que fariam até o mais resistente germe se sentir seguro.

Um movimento global chamado “Campanha de Microvacinação” ganhou força entre as comunidades bacterianas. Eles tinham de se proteger da ameaça humana que poderia dizimá-los, impossibilitando sua união para uma futura dominação do mundo.

Para incentivar todos os micróbios a participarem do movimento, no Brasil, por exemplo, os minimarqueteiros criaram até um mascote, o Zé Gotícula, que estrelou diversas campanhas publicitárias.

Poucos meses após o início da epidemia, de forma muito rápida, os covidianos conseguiram desenvolver uma outra vacina ainda mais potente, a Anti-Entes, que prometia protegê-los da contaminação de todas as cepas humanas: da Ásia, África, Américas, Europa e Oceania.

Filas de germes estendiam-se por milímetros, todos esperando a sua dose de salvação. A imunização era a única esperança para que pudessem, um dia, voltar a ser a ameaça invisível que já haviam sido.

Depois de um certo tempo, em meio à uma paranoia geral, surgiu um grupo de vírus negacionistas. Eles clamavam que as máscaras eram uma violação de sua liberdade e que a vacina era uma conspiração para alterar seu RNA.

O debate ficou acirrado, e a polarização entre os micróbios se tornou mais radical do que nunca. Alguns de seus líderes, em certos países, apoiaram a facção negacionista e bilhões de covidianos acabaram entrando em óbito.

O mundo humano apenas observava, com incredulidade, enquanto os vírus enfrentavam sua pandemia, provando do seu próprio veneno.

E, enquanto eles se debatiam, os homens descobriam que, afinal, havia algo ainda menor e mais problemático do que eles no universo.

(Publicado no Estadão)




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