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Artigos • 05 jun, 2023

É difícil saber a essa altura se o Brasil sobreviverá à radicalização política


(por Luiz Felipe Pondé, na FSP) –

Um dos traços do nosso descalabro é a falta de educação, fruto da pressa de alguns para passarem por cima dos outros

O Brasil sobreviverá a radicalização política institucional, além da fanatização dos costumes? Não é possível responder a essa pergunta a esta altura.

Países sobrevivem durante anos a circunstâncias adversas. Vejamos dois exemplos que são muito significativos.

A Argentina sobrevive há anos de descalabro econômico e incompetência administrativa pública, além da conhecida corrupção que é a senhora da casa na América Latina. E ainda dá um verdadeiro baile no Brasil em futebol, educação, cultura, cinema e outras “cositas” mais.

Israel sofre há anos agressões dos seus vizinhos e a campanhas de difamação sistemática do tipo BDS —movimento que prega o cancelamento de Israel em todas as frentes internacionais—, além, claro, do clássico antissemitismo da esquerda desde Stálin.

Ainda assim, o país é visto como uma potência militar, cultural e econômica, sendo uma democracia em meio à variedade de regimes totalitários que dominam a região.

A fanatização do Brasil é evidente. Falamos do Brasil, mas é um processo que acomete o mundo inteiro. Um verdadeiro rebanho de zumbis.

Um dos traços de um fanático é a falta de educação. O Brasil se tornou um país de mal-educados —além de ladrões, assassinos, golpistas da internet, sequestradores, craqueiros, corruptos e mentirosos que comem de garfo e faca.

A falta de educação do fanático é fruto da pressa que ele tem na hora de passar por cima de todos os outros.

Sobreviverá o Brasil à radicalização da ideia de que o mundo está mesmo dividido entre a esquerda e a direita?

Sabemos que todo esse princípio hermenêutico implica o empobrecimento semântico e cognitivo. Isto é: a tal da famosa burrice. Fala-se mal, entende-se mal, enxerga-se mal.

Toda militância, por definição, implica um empobrecimento prévio da alma e da inteligência —mesmo quando a causa é boa. Repetem-se frases, estreitam-se os olhares. É um grande rebanho de zumbis.

Militante é sempre um chato e alguém que faz você perder o seu tempo, como um pregador que bate de porta em porta.

Um fenômeno, pouco falado, é o processo crescente de radicalização da política institucional no Brasil dos dias de hoje. No que tange ao poder Judiciário, essa radicalização aparece no hiperativismo jurídico, na prática de assédio judicial e na tentativa de “mudar o Brasil” a partir das certezas de gabinete.

Mas, no Executivo e no Legislativo, a radicalização é menos evidente, mas, nem por isso, mesmo real, basta ver as últimas rodadas no Congresso e a humilhação do Executivo.

Claro que parte disso se deve às redes sociais e à soberania que elas têm exercido cada vez mais sobre os rumos da sociedade —para o pânico do Estado moderno.

O simples fato de que as pessoas ficam o tempo todo falando nas redes e emitindo as opiniões mais descabidas possíveis por lá prepara a linguagem para a lacração, os gestos, para o fanatismo e os espíritos, para a cobrança sobre a máquina política institucional. Às vezes, dá até uma saudade dos tempos em que apenas a velha corrupção e os maus hábitos dos políticos é que nos preocupavam para valer.

Um dos maiores riscos da radicalização profissional da política entre nós é o fato de o Brasil ser, em grande medida, um país feito de canalhas —mesmo aqueles que dizem querer salvar o país dos seus males.

Políticos com vícios acomodados são muito menos perigosos do que políticos em que os vícios não se limitam a mulheres e dinheiro.

Outra causa é o nascimento, de fato, de uma oposição mais ou menos organizada dentro do país. E tudo isso graças ao bolsonarismo —sei que os inteligentinhos vomitarão, como está na moda agora se escrever, mas aqui se trata de uma discussão entre os adultos sobre a mecânica dos poderes da República e não sobre as suas crenças pueris no assunto.

O governo de Jair Bolsonaro enfrentou a clássica oposição do PT. Agora o PT, que nunca enfrentou oposição sistemática nenhuma durante os seus quatro governos —afora o impeachment de Dilma Rousseff, que foi uma morte súbita—, agora é obrigado a encarar, no Legislativo e na sociedade, movimentos que visam levar o governo Lula ao chão.

Como a sociedade está fanatizada, a tendência agora é que a política siga o comportamento em voga.

A pergunta que fica é: conseguirá o PT escapar da própria queda usando o velho recurso da política brasileira de sempre —e o qual ele mesmo já usou no passado—, isto é, a velha corrupção?




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