Campo Grande, 05/05/2024 11:15

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Artigos

Artigos • 28 out, 2021

Espada de Dâmocles


( por Vittório Medioli) – É preciso ir além do limite das urnas, analisar com frieza as condições de governabilidade que cada candidato terá, como vencedor do cargo presidencial, para conduzir o país em “ordem e progresso”. Nisso precisa avaliar o passado de cada um, pois é a condicionante do presente, que se apresentará num mandato de quatro longos anos.

É prudente e oportuno, antes de se apostar em alguém pelo rótulo e promessas de campanha, considerar friamente outros – e até mais importantes – fatores.

O cidadão tem o dever de gastar seu voto com responsabilidade e perspectiva de avanços sociais e econômicos, considerar atentamente as prerrogativas pessoais dos candidatos, ao menos as essenciais, como diriam os romanos, “sine qua non”, ou sem as quais não é consentido alcançar o sucesso, “nem que a vaca tussa”, como diria o matuto.

A imprescindibilidade da autoridade moral, não só da legal, ainda a ausência de amarras, compromissos de cumplicidades e vícios de ordem pessoal são pedras de percurso que inviabilizam um mandato gestado sob a “espada de Dâmocles”, aquela que se abate sobre o eleito ao contrariar um poderoso ou um cúmplice anterior. Pior quando os cúmplices são muitos e poderosos, assentados no Poder Legislativo, o mesmo que fiscaliza os atos de um governo e pode decidir-se até por um impeachment motivado por falhas e crimes anteriores.

Uma condição de liberdade em relação ao passado, um revestimento refratário a oportunistas e mal-intencionados, que são “sempre presentes” em volta de qualquer poder para condicioná-lo e explorá-lo.

Um presidente não pode perder tempo em defender-se de acusações ou se acuar sob chantagens e ameaças. Deve ter condições de respeito e credibilidade, sem levantar desconfianças ainda sem solução de mensalões e petrolões, crivados de malfeitos contra o interesse de uma nação.

A dose de moralidade do eleito e do seu governo confere o tom e a frequência que se espalham em volta dele e atingem o planeta inteiro. Como a bandeira simboliza o país, o presidente o representa e, se for bom, admirado e respeitado, em condições de exercer suas prerrogativas plenas, a nação será quem ganha, do contrário será quem pagará uma conta amarga. Ser símbolo claro de virtudes, chegar ao cargo não apenas pelos fracassos de outros presidentes, vai fazer a diferença entre o fracasso e o sucesso de um governo, da economia, do desenvolvimento, da riqueza gerada ou da miséria ampliada.

Sobre um país, sua economia e sua população, pesa uma consideração inegável: “Diga-me quem você elegeu, e lhe direi quem você é”. É indissociável a integridade pessoal, mais que o próprio carisma, que acompanhará e dará força ao futuro presidente.

O exercício de um mandato que carrega na sua bagagem inúmeros esqueletos de crimes, ainda não dessecados, inegavelmente, terá dificuldades e problemas da maior gravidade. Estará preso, na defesa, acuado, condicionado pela indigência de virtudes.

Ainda que arrependido, repaginado e coberto de cinzas da quarta-feira que se segue ao Carnaval, continuará exposto, como aconteceu num passado recente, a qualquer “Roberto Jefferson”, interessado em explorar as mais escabrosas negociatas de outras temporadas. Quanta munição terá a oposição e como poderá evitá-las?

A fragilidade de depender de um Congresso Nacional que guarda debaixo do tapete cumplicidades do passado deixa um eleito que esteja nessa condição como uma tábua levada pelas ondas. Qualquer eventual desacordo poderá suscitar o passado ainda não resolvido. Refém, não governará, será governado nos limites de suas fraquezas.

Não vale a pena citar pecadores, mas só os pecados, que, como dívidas cármicas, estarão prontos a se levantar para cobrar aquela justiça cósmica que tarda, mas não falha.

Fonte – O Tempo – BH

 

Obs.: A espada de Dâmocles é uma alusão frequentemente usada para remeter a esse conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade de esse poder ser-lhes tomado de repente), ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de condenação iminente. 




Deixe seu comentário