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Artigos • 17 nov, 2023

Um pedido especial


(de Carlos Castelo)

Um homem se senta no balcão de uma padaria e ordena ao garçom: “me dá um pão com cuspe”.
O garçom arregala os olhos e tenta conter o riso. Ele olha para o homem sentado no balcão, cuja expressão parece muito séria.
O garçom pega o menu e começa a folheá-lo com um ar grave, como se estivesse procurando algo \específico.
“Bem, senhor, não temos exatamente pão com cuspe em nosso cardápio”, diz ele com uma expressão intrigada, “mas temos um similar que pode ser do seu interesse. Talvez um pão integral com uma porção de molho branco por cima?”
O homem permanece impassível, considerando a sugestão. Ele olha para o garçom e finalmente diz:
“Não, obrigado, prefiro o pão com cuspe tradicional”.
O garçom, solícito, responde:
“Como é um pedido um pouco diferente do que fazemos, vou até a cozinha ver se é possível preparar. Enquanto isso, não quer tomar nada, patrão?”.
“Nada não, obrigado”.
O garçom sai. Passam-se muitos minutos e nada dele voltar. O homem já está impaciente. Pergunta aos outros atendentes onde poderia estar o homem, mas eles não sabem responder.
Como não recebe nenhuma satisfação vai buscá-la no caixa.
“Pedi um pão com cuspe. O garçom foi até a cozinha e não volta mais. Que raio de bodega é essa?”
“Calma, amigo”, diz a senhora no caixa.
“Calma o quê? Eu quero o meu pão com cuspe agora!”
A mulher espera o freguês respirar e conclui:
“Pode ficar sossegado, o senhor vai ter o seu pão com cuspe. Já sai!”
De repente, a porta da cozinha se abre e o garçom reaparece, trazendo um prato coberto por uma tampa metálica. Ele se aproxima do balcão.
“Aqui está o seu pedido, senhor: um pão com cuspe especial da casa”.
Ele retira a tampa, revelando um pão fresco e brilhante, todo cuspilhado no miolo.
O freguês morde o pão e seus olhos se iluminam.
“Isso está delicioso!”
Outros clientes da padaria começam a se interessar.
“Eu também quero um pão com cuspe!” – ordena um deles.
O garçom, aproveitando o momento, começa a oferecer a novidade para a clientela.
Em pouco tempo, todos ali querem provar a iguaria. Iguaria essa que, passados alguns meses, entra no Guia Michelin como “prato mais original e exótico de estabelecimento popular”.
Porém, mal imaginavam os críticos de gastronomia que o inventor daquele prato era um inveterado apostador. Momentos antes de entrar naquela padaria de bairro, ele dissera a dois comparsas na calçada:
“Duvidam que eu entre lá e peça um pão com cuspe?”
Ao que um respondeu:
“Eu aposto cenzinho que você entra, pede, mas não come…”
Nascia assim mais um quitute tipicamente brasileiro.
(Publicado no Estadão)



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