Campo Grande, 18/05/2024 10:37

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Política

Política • 03 mar, 2023

Excesso de chuvas preocupa produtores


Dados do Boletim Mensal da Análise das Condições Meteorológicas catalogados pelos técnicos do CEMTEC/MS (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul), órgão vinculado à Semadesc (Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), confirmaram que o mês de fevereiro deste ano foi de muita chuva em todo o Estado. Os índices de precipitação acumulada ficaram acima da média esperada em 33 dos 36 municípios pesquisados, sendo que os maiores acumulados ocorreram em Ponta Porã, com 539 milímetros de chuva em 24 horas, o que representa 233% acima da média histórica.

Em seguida vêm Mundo Novo (217% acima da média histórica), Dourados (171%), Três Lagoas (149%) e Amambai (148%), enquanto em Campo Grande também choveu bastante, 225,8 milímetros em 24h, representando 30% acima da média histórica. Apenas os municípios de Água Clara, com acumulado de 167,2 milímetros/24h, de Santa Rita do Pardo (132,8 milímetros/24h) e de Chapadão do Sul (98 milímetros/24h) registraram acumulados abaixo da média esperada. Para o próximo trimestre, a previsão é que as chuvas continuem, porém devem ficar abaixo da média histórica, com índices de precipitação acumulada para o trimestre março, abril e maio ficando entre 40 a 60% abaixo da média histórica nas regiões Centro-Sul, Oeste e Leste do Estado.

O resultado desse excesso de chuvas é o de perdas nas lavouras de soja de Mato Grosso do Sul e, em consequência, o atraso no plantio da segunda safra de milho nas principais regiões produtoras. Na região sul, segundo o Sindicato Rural de Dourados, o atraso na colheita da soja afeta 75% das lavouras, em decorrência das chuvas, o que significa que só 25% do milho segunda safra foi plantado até agora na região.

Nessa mesma época do ano passado, segundo o Sindicato, toda a soja já tinha sido colhida na região, que por sinal é uma das principais produtoras de grãos de Mato Grosso do Sul. No dia 9 de fevereiro deste ano, um Boletim da Casa Rural elaborado pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), indicava que a região sul estava com a colheita mais avançada, com média de 1,5%, enquanto o Centro está com 0,7% e o Norte com 0,66% de média.

Com um crescimento de 5,3% para este ano, a previsão para o milho é de plantio de 2,3 milhões de hectares e produção de 11 milhões de toneladas do grão. O custo de produção este ano aumentou 27%, com fertilizantes, mecanização e outros insumos, chegando a R$ 1.600,00 por hectare. O calendário de semeadura de milho segunda safra se estende até 31 de março, de acordo com a determinação do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

O Sindicato Rural de Dourados explica que a janela para o plantio do milho é essencialmente fevereiro. Com o fim do verão em março e início do outono os dias ficam mais curtos e o milho precisa de muito sol e temperatura adequada para se desenvolver. Quanto mais tempo atrasar o plantio do milho menos qualidade o grão terá na colheita. Na região centro-norte, onde produtores plantam duas safras de milho, não haverá tantos problemas.

Em relação à soja, o Sindicato explica que o excesso de umidade faz o grão mofar e afeta a qualidade do produto. Para exportação, o limite na carga de grãos avariado é de 8%. Com o grão úmido, aumenta o custo do agricultor com a necessidade de secagem. Porém, apesar de tudo, para esta safra, a produtividade não altera.

As chuvas recorrentes nas lavouras de soja, no estádio final da cultura em R8 (maturação plena da planta), afetam diretamente a qualidade da produção, contribuindo para formação de grãos fermentados e ardidos. Os principais agentes para causar esses grãos avariados são a umidade, temperatura e a ação de microrganismos que desencadeia o processo fermentativo da soja, explicam técnicos da Aprosoja-MS (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul, ouvidos pela reportagem.

Supersafra

Apesar da intempérie, os números divulgados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que a produção de soja em Mato Grosso do Sul nesta safra 2022-2023 será pelo menos 51,9% superior em relação à safra passada, saindo de 8,932 milhões de toneladas para 13,482 milhões de toneladas do grão. A queda na produtividade da soja na safra passada é justificada pela estiagem que afetou as lavouras.

Na safra 2021-2022 a produtividade dos grãos ficou em 2,513 kg por hectare. Nesta atual safra houve um incremento de 42,7%, alcançando a média prevista pela Conab de 3,585 kg/ha. O excesso de chuvas em Mato Grosso do Sul vem impactando negativamente na colheita de soja e, consequentemente, na semeadura do milho nesta safra. O acompanhamento das lavouras feito pela Aprosoja-MS mostra que a soja tinha boas condições em 93% de suas lavouras e 7% em estado regular.

Mato Grosso do Sul atingiu 1,2% de área colhida de soja na safra 2022/2023. A porcentagem da área colhida da safra 2022/2023, encontra-se inferior em aproximadamente 7,6 pontos percentuais em relação à safra 2021/2022, para a data de 3 de fevereiro. A área de soja no Estado ainda está em constante crescimento, a estimativa é que a safra seja 2,5% maior em relação ao ciclo passado (2021/2022), atingindo a área de 3,842 milhões de hectares. A produtividade estimada é de 53,44 sc/ha. Gerando a expectativa de produção de 12,318 milhões de toneladas.

A baixa luminosidade nas lavouras, em função do excesso de chuvas, está atrasando o fechamento do ciclo da cultura da soja no Estado, adiando em média de 7 a 10 dias o encerramento. Em efeito, afeta a operação de semeadura do milho. Para a 2ª safra de milho 2022/2023 em Mato Grosso do Sul, a área estimada é de 2,325 milhões de hectares, considerando um aumento de 5,4% em relação à área da 2ª safra de 2021/2022.

A produtividade estimada é de 80,33 sc/ha, gerando uma expectativa de produção de 11,206 milhões de toneladas. O Estado atingiu 0,4% de área plantada de milho na 2ª safra 2022/2023. A porcentagem de área plantada na 2ª safra 2022/2023, encontra-se inferior em aproximadamente 5,0 pontos percentuais em relação à 2ª safra 2021/2022, para a data de 03 de fevereiro.

Governo atento

Resgate de moradores, monitoramento do nível de rios, quantidade de chuva e pontos de alagamento, além de reparos em estradas e planejamento antecipado para enfrentar possível agravamento da situação estão na lista de trabalhos realizados pelo Governo de Mato Grosso do Sul neste período de fortes chuvas no Estado. No quesito reparos, há atualmente ao menos 64 pontos de intervenção com máquinas diversas.

De pronto, as principais ações diante das chuvas são tomadas pelo Corpo de Bombeiros e Cedec (Coordenadoria Estadual de Defesa Civil), em parceria com as prefeituras das áreas afetadas. Exemplo disso foi o resgate de 47 pessoas que ficaram ilhadas durante a chuva que atingiu Bonito no fim de semana passado.

O Corpo de Bombeiros recebeu o chamado e fez o resgate, não apenas de pessoas, mas também de animais domésticos em um total de nove ocorrências relacionadas ao temporal que elevou o nível dos rios. Quatro viaturas, nove militares e um caiaque foram empregados no trabalho, realizado na maior parte à noite.

Com a redução do nível de água desses locais, os moradores retornaram para suas casas, mas as autoridades municipais e estaduais seguem em alerta para o socorro dessas pessoas, se antecipando caso um novo incidente surja. “Pedimos para todos os municípios que se organizem e nos passem relatórios detalhados, específicos, para darmos essa resposta à população. Temos que nos antecipar para atender quem precisar de nós nesse momento”, explicou no domingo (27) o governador Eduardo Riedel, logo após encontro com sete prefeitos da região sudoeste pouco depois do governador sobrevoar áreas afetadas pelas chuvas.

Em Campo Grande, a chuva chegou forte entre a tarde e noite de domingo, causando estragos em vias públicas urbanas da região sul, impedindo um dos acessos ao Jardim Botafogo. O resgate do motorista de uma camionete que caiu em uma cratera foi feito pelos Bombeiros, que também removeram veículos de pontos de alagamento. Fora o atendimento direto à população atingida pelas chuvas, também são realizados levantamentos de áreas que sofreram estragos, passando por intervenção imediata para restabelecer a normalidade, principalmente estradas e pontes.

Rodovias como a MS-244, MS-347 e MS-352, mais próximas a Campo Grande, passam por restauração após problemas ocasionados pela força das chuvas. Estradas vicinais que estão sob jurisdição municipal também recebem apoio do Estado. Já na região de Bonito, uma das mais afetadas, a rodovia MS-178 segue parcialmente interditada por causa do surgimento de um grande buraco, enquanto que na MS-170 o rompimento do caixão de aterro obriga o tráfego a ser feito por desvio lateral.

Outras rodovias no sul e leste do Estado também foram afetadas pelas chuvas e estão listados em relatório da Seilog (Secretaria de Infraestrutura e Logística) para elencar os trabalhos realizados pelo Governo de Mato Grosso do Sul no setor. Ao todo, há pelo menos 64 pontos passando por manutenção atualmente, trabalho de rotina da Seilog e Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), mas que foi intensificado com a chegada das fortes chuvas em todo o Estado.

As obras ocorrem nas regionais de Amambai (3 pontos), Paranaíba (5), Nova Andradina (4), Miranda (2), Bela Vista (8), Dourados (5), Três Lagoas (6), Campo Grande (7), Corumbá (2), Coxim (1), Jardim (3), Maracaju (8), Costa Rica (5) e Camapuã (5). A ação do Governo do Estado prossegue em outras áreas. Uma delas é a de monitoramento do nível dos principais rios do interior. O Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), por exemplo, confere a marca em vários trechos de rios como Miranda, Aquidauana, Taquari, Paraguai, Piquiri e Cuiabá.

Segundo a aferição, apenas o rio Miranda se encontra com o nível em status de emergência, no trecho próximo a Estrada MT-738. Lá, volume acima de 6,5 metros é considerado emergencial, estando atualmente 2,72 metros além do limite. Nessa área também foi conferido um total de 138,4 milímetros de chuva em sete dias. Outro trecho do curso do rio Miranda que também está acima da normalidade, mas gerando por ora estado de alerta, fica em Miranda (6,70 metros). Lá, o status de emergência passa a valer a partir de 7 metros, conforme a tabela do Imasul.

Fora dali, apenas o rio Taquari, em Coxim, se apresenta acima do normal, mas também em alerta. A aferição no local é de 4,30 metros, 70 centímetros a menos que o limite. De um modo geral, o que se vê é uma tendência geral de redução dos níveis, exceto no rio Miranda, onde há uma crescente constante de volume. A previsão do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima) de Mato Grosso do Sul é que nos próximos dias o tempo siga instável no Estado, com probabilidade de chuvas de intensidade fraca a moderada, mas com possível ocorrência de chuvas mais intensas e tempestades acompanhadas de raios e rajadas de vento, com destaque nas regiões centro-sul e leste de Mato Grosso do Sul.




Deixe seu comentário