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Artigos • 03 jan, 2020

Bolsonaro falta com o decoro? É de se ter um frouxo de riso ( J.R. Guzzo)


Veja só que coisa extraordinária: o presidente da República está sendo acusado de faltar com o decoro. É de se ter um frouxo de riso. Falta de decoro? E desde quando alguém já imaginou que a palavra “decoro”, como está definida no dicionário, possa ter alguma relação com a vida política brasileira?

Temos uma Câmara dos Deputados onde pelo menos um terço dos membros (há cálculos que falam em 40%, ou mesmo mais que isso) está respondendo a algum tipo de denúncia criminal. Temos um senador com nove ou dez processos nas costas, outro que foi pego em flagrante de extorsão ao telefone e outros que só não estão numa penitenciária porque têm “imunidades parlamentares” – ou seja, a licença de praticarem crimes sem serem presos.

Temos um presidente do Supremo Tribunal Federal que foi reprovado duas vezes no concurso para juiz de direito. Temos os políticos metendo a mão num fundo eleitoral que tem bilhões de reais roubados do contribuinte.
Temos, temos, temos. Falta de decoro? Vão passear.

Seria uma beleza, naturalmente, que os nossos homens públicos, a começar pelo presidente da República, tivessem uma conduta nota 10. Mas não têm
– e muitos não seriam capazes nem de reconhecer o conceito de “decoro”, mesmo que topassem de cara com ele numa esquina. O que fica francamente esquisito é cobrar bom comportamento só do presidente.
Parece aquela palhaçada que agora colou nos jogos de futebol: os locutores de rádio e televisão que, para cumprir regras de correção política dos estádios, ficam reprovando gravemente o palavreado da torcida, sobretudo em relação ao goleiro do time visitante. Adianta alguma coisa? E, no fundo, quem é que está ligando?

O presidente Bolsonaro, em seu último surto de nervos, falou algumas barbaridades contra os jornalistas que o interrogavam. Isso não se faz.
É óbvio que não se faz. Não porque os jornalistas mereçam algum tratamento especial – jornalistas, na verdade, não merecem coisa nenhuma. Também não se trata, no caso, de uma reação justa ou compreensível diante de uma imprensa que, francamente, jamais foi imparcial em relação a Bolsonaro, e nunca será – ao contrário, trata o presidente da República como se ele fosse um delinquente de rua.

Enfim: ouvindo os insultos, ou coisas muito parecidas, que os jornalistas fazem frequentemente a Bolsonaro, muitas pessoas devolveriam na mesma moeda e na mesma hora. Acontece, e é aí que está o problema, que o presidente não é “muitas pessoas”. Ele é o presidente da República, Santo Deus, e o cidadão que se dispõe a ocupar esse cargo não pode, simplesmente não pode, achar que tem o direito de sair por aí dizendo o que lhe der na telha. Não tem “sangue de barata”, e outras bobagens? Então não vá ser presidente e pronto. Ninguém é obrigado.

Bolsonaro está 100% errado, porque não pode fazer o que faz. Ficar com essa história de “decoro”, ao mesmo tempo, é 100% hipócrita




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