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Artigos • 23 abr, 2024

Como é que o Brasil é de direita e Lula está no poder?


(por Joel Pinheiro da Fonseca, na FSP) – 

O fato é que o presidente é muito maior do que a esquerda nacional

O fato é que Lula é muito maior do que a esquerda nacional. A mesma pesquisa também mostra isso. Dos que votaram nele no segundo turno em 2022, 33% se consideram de esquerda, 29% de centro e 27% de direita. É por isso que o espectro da aposentadoria de Lula —que tem, no máximo, sete anos de Presidência pela frente— deve tirar o sono de muitas lideranças do PT. Como não encolher depois que Lula sair de cena? Boulos, Gleisi, Janja; todos esses são esquerdistas de verdade, coisa que, no Brasil atual, não é vantagem.

É claro que esses rótulos omitem muitas variações internas e dão a ideia de fixidez em algo que é muito fluido, mas captam, sim, uma realidade: a população brasileira tende ao conservadorismo moral, à crença na responsabilidade individual (para o bem e para o mal), à crença em Deus e ao desejo por ordem na sociedade. Tudo o que foge muito disso tem dificuldades junto à opinião pública.

E, no entanto, o debate público parece distante desses termos. Seja no direito penal, na proteção a minorias, no reconhecimento de costumes que ferem a moral dominante, nos acostumamos a dialogar com as ideias mais progressistas vindas da Europa. O único problema é que grande parte da população ficava de fora dessa conversa.

Muitas das conquistas em direitos humanos e em pautas progressistas só foram possíveis porque essa elite cultural tinha um acesso privilegiado aos espaços de tomada de decisão, seja no Legislativo, no Judiciário, na mídia, em institutos e think tanks, etc. Eu, embora seja de centro-direita, faço parte desse grupo, com visões de costumes francamente mais progressistas do que a média da população brasileira.

A esquerda sempre apontou, corretamente, a enorme desigualdade econômica do nosso país. Está na hora de ela se defrontar, então, com uma de suas consequências: o abismo de crenças e valores que existe entre a elite cultural (aqueles que têm espaço na mídia, nas artes, nas universidades) e o resto da sociedade.

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