O dia 1º de maio tradicionalmente promove reflexões sobre a importância do trabalho como força motriz do mundo e da vida em sociedade. Em 2020, a data encontra um cenário inédito e difícil, moldado pela pandemia de  covid-19

esse contexto, não se pode deixar de reconhecer a importância de muitas profissões que nos são essenciais, em áreas como saúde, alimentação, segurança, transporte, jornalismo e tantas outras. São trabalhadores e trabalhadoras que estão nas ruas, se arriscando (ainda que com medidas e equipamentos de proteção), para não deixar a comunidade desassistida ou desabastecida. Isso faz com que percebamos o quanto somos interdependentes do trabalho uns dos outros.

A nova realidade também traz sérias preocupações. A contenção da atividade econômica, indicada pela Organização Mundial da Saúde como medida necessária para refrear a disseminação do vírus, gera crise financeira nas empresas e coloca milhões de empregos em risco. A situação também pode levar ainda mais pessoas à informalidade, cuja fragilidade e desproteção agora se revelam mais do que nunca, em especial em países como o nosso.

Apesar das reais dificuldades, a prioridade deve ser a manutenção dos empregos, sempre que possível. Há medidas legais temporárias, que envolvem suspensão de contratos e redução de salários e jornada, com contrapartida financeira aos trabalhadores. A Justiça do Trabalho exerce papel fundamental, colocando-se à disposição para mediar negociações coletivas sobre medidas para atravessar a crise. Além, é claro, de estar de portas abertas àqueles que queiram buscar, em ações individuais, os direitos que entendem ter.

É certo que o mundo do trabalho passará por transformações  com a crise. A expansão do teletrabalho é um exemplo. No entanto, tais transformações não mudarão o fato de que, por trás de todo trabalho, há um ser humano, que tira dele seu sustento e dignidade. Precisamos ter em mente a necessidade da garantia da proteção social e dos direitos fundamentais do trabalhador. Nesse sentido, o papel do Estado se mostra ainda mais imprescindível.

Por Carmen Izabel Centena Gonzalez, desembargadora do Trabalho, presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS)