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Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

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Artigos • 07 fev, 2022

Corumbá e a sina da estagnação


Atribuir o estado de estagnação na qual se encontra a Cidade Branca, aos
ex-prefeitos a partir da década de 1960, seria no mínimo injusta, porque
as causas são estruturais, o que nos leva a uma profunda reflexão. Contu-
do, a logística parece ser o fator principal dessa desdita. Basta procurar os
registros históricos da cidade para constatar que até 1930, Corumbá deti-
nha o título de terceiro porto fluvial da América Latina. No Porto Geral da
Cidade Branca, grandes navios procedentes da Europa, ali atracavam, sem
contar que os hidro-aviões da Condor, conduzindo passageiros, também
ali amerissavam

A Rede Ferroviária Noroeste do Brasil, até o início da década de 1950 tinha
o seu ponto final, em Porto Esperança, porque a Ponte Ferroviária sobre o
Rio Paraguai, ainda estava em fase de construção, por isso, cargas e passa-
geiros com destino à Corumbá e Cuiabá, faziam transbordos em navios ali
ancorados. Após a conclusão da Ponte Ferroviária, houve um declínio em
relação ao comércio dos países como Argentina e Uruguai. A hidrovia foi a
principal responsável pelo desenvolvimento econômico da região por mui-
tos anos, influenciando até mesmo no aumento populacional.

No contexto econômico estadual, Corumbá despontava como a mais im-
portante contribuinte do Estado de Mato Grosso, exercendo uma incon-
testável liderança, eis que, dada sua posição geográfica, empresários de
muitos segmentos ali se estabeleceram, cabendo destacar que nada me-
nos do que 25 Bancos Estrangeiros criaram filiais no Porto Geral, valendo
frisar que o City Bank era a estrela principal, e a moeda corrente, pasmem
éra a libra esterlina.

Ainda em relação a logística, Corumbá contava com inúmeras empresas
aéreas de transportes de passageiros e cargas, como a Cruzeiro do Sul, a
Panair do Brasil, a Vasp, a Real, o Loyd Aéreo Boliviano, e ainda incontá-
veis número de Taxis Aéreo estacionados no angar do aeroporto interna-
cional da Cidade. Ainda com a chegada do Trem da NOB como era conhe-
cido, a fronteira com a vizinha Bolivia se abriu, expandindo ainda mais o
comércio entre os dois países.

No campo econômico, a Pecuária ocupava um lugar especial, sua impor-
tância era tamanha que o Governo Federal no ano de 1914 criou a sua
agência 14ª do país, em Corumbá. A partir da chegada da Ferrovia, pro-

dutos como o gado, o ferro-guza, o cimento, o trigo procedente da Argen-
tina, passaram a utilizar esse novo modal para o transporte de seus produ-
tos, Corumbá éra um verdadeiro Eldorado, e seu povo, muito feliz.

Porém, como uma nuvem negra, a Capital do Pantanal começou a perder
sua importância inexplicavelmente, isso foi sentido aos poucos, costumo
fazer uma comparação entre as populações de Corumbá e Dourados em
duas oportunidades: 1965 Corumbá 96.000 habitantes Dourados 68.000
habitantes – 2021 Corumbá 112.000 Dourados 228.000. Quero crer que a
mudança do Eixo Econômico feito de maneira imperceptível, beneficiou
Campo Grande, e, por extensão, Dourados.

Porém, o tiro de misericórdia para Corumbá, foi a desativação da empresa
estatal Bacia do Prata que liderava o transporte fluvial, e, passo seguinte,
a Noroeste do Brasil, hoje abandonada e sucateada. O setor aéreo não
teve outra saída, desativou suas agências na cidade. Pasmem, tudo isso
teve início com  a mudança da capital do país para Brasília, e o cole-
gio eleitoral de Corumbá não é muito atraente aos detentores do poder.

Só nos cabe clamar: “Deus Salve Corumbá”.

BENEDITO RODRIGUES DA COSTA
Economista




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