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Artigos • 11 dez, 2021

Filme ‘Ilusões Perdidas’ escancara a praga das fake news ao longo do tempo


(por Mario Sergio Conti ) –

Longa tem atuação esplendorosa de Gérard Depardieu e traz grandes questões do século 19 para o 21

Há várias razões para assistir a “Ilusões Perdidas”, que pré-estreou e logo entrará em cartaz. Uma delas é ver Gérard Depardieu esplendoroso. Ele está roliço e estufado como um leitão. Seu nariz é um tubérculo. O cabelo está ralo. Parece que viveu na esbórnia cada um dos seus 72 anos.

Está também monstruoso fora das telas. Miliardário, deu um passinho além de Paulo Guedes e se naturalizou russo para sonegar impostos. Responde a um processo por abuso sexual. Cai de bêbado e vive trombando a moto. É cupincha de Putin. Não diz coisa com coisa. Está um trapo.

Depardieu faz um papel secundário no filme, o que é complicado para uma celebridade. Interpreta um editor venal, mas realista e sem sombra de cinismo. Prescinde de caras e bocas e rouba a cena, atraindo todos os olhares.

Não é só carisma. Ele tem a inteligência da humildade.

“Ilusões Perdidas” é adaptação do romance capital da “Comédia Humana”, de Balzac. Em duas horas e meia, o diretor Xavier Giannoli conta as aventuras de Lucien, um rapazola provinciano que muda para Paris com a nobre intenção de viver para a arte e o amor.

Poeta e amante de uma aristocrata casada, Lucien busca uma nobreza que cabe na partícula “de”. Por parte de pai, seu sobrenome é Chardon. Ele quer trocá-lo pelo da mãe, “de Rubempré”, cujo “de” denota pedigree ilustre, ainda que depauperado. Só o rei pode autorizar a barganha.

O filme se passa na Restauração, que vai da queda de Napoleão, em 1814, até a grande revolta de 1830 —afora os Cem Dias, quando Bonaparte retomou o poder até ser banido. A velha monarquia é restaurada e adquire caráter burguês.

A nova nobreza não é de sangue (hereditária) nem de espada (obtida em guerras). É a de toga, aquela cujos títulos aristocráticos são outorgados pelo rei aos burgueses, que o sustentam e comandam o governo. A Restauração marca a derrota da Revolução de 1789.

É uma época reacionária e de progresso tecnológico, de especulação e fortunas feitas da noite para o dia, de compra de posições de mando com moeda sonante —ou por meio de campanhas deletérias agenciadas pela imprensa. É a época de ouro das fake news.

É nessa mixórdia que Lucien chafurda. É largado pela amante nobre (Cécile de France, que além de boa atriz é bonita de tirar o fôlego) e abandona as ambições artísticas. Primeiro para sobreviver em Paris e, em seguida, para subir na vida. As ilusões que perde são as do amor e da arte.

Foi Balzac quem criou a expressão “quarto poder”, o que vem depois do Executivo, do Legislativo e do Judiciário: a imprensa. Para ele, Lucien chegou ao fundo lodoso do poço ao se tornar jornalista. Movida a fake news, a imprensa é sinônimo de fraude e corrupção em “Ilusões Perdidas”.

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