(Pitágoras)

Procuro um candidato. Alguém que não desafine, com quem me afine. Um candidato que fale a língua do povo, mas poliglota o suficiente para dizer só com atitudes. Procuro um candidato que não seja mero aspirante. Quero um que concorra, requeira, solicite; o oposto de desistente, jamais renunciante. O meu postulante precisa dar satisfações sobre tudo o que postula, quem não age assim é pústula.

O meu candidato pode ser negro, branco, amarelo, mulher, homem, cis, trans, gay, assexuado. Desde que não faça gênero. Um concorrente não pode ser dar ao luxo de refugar. Se largar, não deve mais abandonar a pista; carece seguir em frente em sua carreira, se entregar à vida pública como se fosse a razão de sua própria morte.

Procuro um candidato. Mas não consigo ainda o ver em meio à bruma do processo eleitoral. Porém, creio que num país continental como esse, ele haverá de surgir num dado momento. Talvez não seja na próxima votação, nem numa futura encarnação. Só que, um dia, virá para nos acalentar com suas palavras, fazer um oratório de sua oratória e de suas ideias o nosso ideário.

A honestidade do meu candidato terá que ir além da declaração de renda, precisará ser uma declaração de princípios, do começo ao fim. Sua maior virtude será combinar ousadia com empatia, ação com reflexão, austeridade com magnanimidade. É bom que se diga: serei intolerante com candidatos que não praticarem a tolerância. E cego aos que não olharem nos meus olhos.

Procuro um candidato. Paulista, mineiro, baiano, capixaba, piauiense, amazonense, gaúcho, seja de onde for. Mas que traga o mapa do Brasil tatuado na porção do peito onde bate o coração. Que fale com o sotaque do vatapá, do pastel de feira, do barreado, do pão de queijo. E que nos redima com a discrição dos que sabem a eficiência.

Procurei, procuro e procurarei por esse candidato. Por ruas, picadas, autoestradas; a busca não será em vão.Quando puder tocá-lo, terei me encontrado.

*Publicado no O Dia