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Artigos • 29 jan, 2024

Roberto Brant: Os universos paralelos da polarização política no país


O QUE HÁ DE NOVO NA POLARIZAÇÃO RECENTE É QUE AS DIFERENÇAS POLÍTICAS ESTÃO ESTRAVASANDO  A ESFERA DO POLÍTICO.

É hoje consensual o reconhecimento de que a sociedade brasileira nos últimos dez anos se tornou muito polarizada e que esta polarização está formando raízes no tecido social, produzindo o que se pode chamar de calcificação das diferenças. Um livro lançado recentemente, de autoria de dois estudiosos da vida política brasileira, Thomas Traumann e Felipe Nunes, com o sugestivo título de “Biografia do Abismo”, descreve com precisão o processo e desvela suas consequências para a vida das pessoas e para o funcionamento da política.

O que há de novidade na polarização recente é que as diferenças políticas estão extravasando a esfera do político e abrangendo a totalidade da vida, o campo das emoções, dos afetos, da visão do mundo, e deste modo definindo a própria identidade das pessoas. Se o processo prosseguir na sua marcha em breve vamos ter dois países, numa convivência difícil e cada vez mais desesperada. Neste caso desaparece a cooperação social e o Estado tende a ficar paralisado, impotente e incapaz de enfrentar e resolver os problemas reais. Até porque não haverá acordo sobre quais serão realmente estes problemas.

Essa difícil realidade não é um privilégio brasileiro. Outras sociedades estão vivendo situações semelhantes, cada uma à sua maneira. Aqui na América do Sul um exemplo é a Argentina, que vive na verdade uma etapa mais avançada da polarização total, quando os dois polos caminharam para os extremos e não parece haver mais esperança de uma solução política que evite o abismo.

O país mais rico e poderoso do Ocidente, os Estados Unidos, vive uma polarização muito mais avançada e completa do que a nossa, com duas populações que não tem mais nada em comum senão a língua inglesa. Lá a polarização está de tal modo consolidada que numa federação de 48 estados, as eleições são decididas invariavelmente em apenas seis ou sete estados. Quase todo o país está enraizado em sua visão do mundo e nada parece ser capaz de produzir a menor mudança.

No Brasil. a divisão que existe na sociedade não encontra correspondência no sistema político, nos partidos ou no Parlamento. Dos 33 partidos, raros tem algum programa partidário e quase todos, independentemente do que pensam ou desejam seus eleitores, gravitam em torno do governo – qualquer governo – e mesmo os falsos atritos que provocam não passam de meras manobras táticas para a garantia de recompensas. Governo e oposição, terminadas as eleições, não perdem tempo em formar um condomínio para compartilhar os cargos e recursos do poder.

Por essa razão, a polarização na sociedade brasileira não tem solução nos quadros da política, porque sociedade e política são dois universos paralelos. Quando falham as instituições tudo pode acontecer. ( Fonte – O Estado de Minas)




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