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Crônica

Crônica • 24 out, 2020

O meu gol de Pelé


(por Maringas Maciel ) – 

Pelé é a pessoa mais carismática que já vi na vida e olha que conheci muita gente carismática. Foram poucas vezes que estive frente a frente com ele, mas todas estão gravadas na memória.

A primeira vez que vi Pelé, numa noite de quarta feira no Estádio Barão de Serra Negra, em Piracicaba, eu então com 7 anos de idade, fui assistir XV de Piracicaba contra o Santos. Tudo para mim naquela noite era novidade; o estádio lotado, as luzes, os barulhos, a energia que pairava no ar. Apesar de tanta informação, meus olhos grudaram naquele camisa 10 que ofuscava tudo e todos ao redor. Não recordo o resultado do jogo, mas lembro de Pelé flutuando acima dos mortais ao seu redor.

Tempos depois, em Curitiba, estava jogando bola com a piazada quando alguém gritou: OLHA O PELÉ! Imediatamente todo mundo saiu correndo na direção da Vicente Machado com a Desembargador Motta, onde no banco de trás de um Galaxi preto, Pelé foi descoberto aguardando o sinal abrir. Os meninos cercaram o carro e Pelé abriu o vidro, disse algumas palavras e foi embora no sinal verde sem dar autógrafos. Durante muitos anos fiquei pensando como Pelé foi reconhecido, sentado no banco de trás de um carro, parado no sinaleiro. Hoje sei que o carisma puxa o olhar; o famoso ‘magnetismo’.

Em 1997, trabalhando na produção dos Jogos Mundiais da Natureza em Foz do Iguaçu. Para a cerimônia de abertura, foi montada no heliponto das CataraTas uma arena para 400 convidados, entre autoridades e atletas. A arena ficou de frente para as cataratas. No palco, Denise Stoklos encenando um texto que falava de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, o descobridor daquela maravilha da natureza. Nas primeiras filas estavam o Presidente do Brasil, do Paraguai, da Argentina, Governador do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, Ministros e demais autoridades. Em determinado momento da apresentação, passei por trás do palco e dei uma rápida olhada em direção a arena; meus olhos automaticamente grudaram na figura do Pelé (então Ministro dos Esportes) sentado na primeira fila, ofuscando tudo e todos. Até hoje me impressiono com o poder daquele magnetismo. Eu não olhei para ver Pelé; eu olhei para ver a cena, mas só vi Pelé. As cataratas, a Denise Stoklos, os Presidentes, as autoridades, os convidados, os jornalistas, tudo sumiu; só ficou Pelé sentado com as pernas cruzadas.

Numa tarde de domingo em 1973, o Santos de Pelé veio jogar contra o Atlético no Estádio Belfort Duarte (atual Couto Pereira). Eu, Coxa Branca, vesti uma camisa de goleiro (com o escudo do Coritiba) e fui com meus amigos ‘entrar de mascote’ só pra ver Pelé. Entramos no gramado junto com o Atlético, posamos para a foto com o time (eu estou lá, na edição da Tribuna) e saímos correndo para perto do Pelé, que obviamente estava cercado de jornalistas e curiosos e não logramos nos aproximar muito. Antes da partida começar, a piazada que tinha entrado de mascote foi retirada do gramado, mas como eu nessa época era conhecido dos funcionários do estádio (era amigo dos jogadores do Coritiba e todo domingo de jogo almoçava com eles no Hotel Guaíra entes de embarcar no ônibus da delegação para ir ao estádio) dei meu jeito e permaneci no gramado. Feito o sorteio, o Santos começaria atacando o gol da igreja e foi ali que me posicionei. Atrás do gol, bem no meio, havia o mastro da bandeira (estava ali desde 1932, depois foi realocado na entrada do estádio). Para não atrapalhar ninguém e passar desapercebido, sentei na grama apoiando as costas no mastro, poucos metros atrás do gol. Foi desse local com visão ultra privilegiada, que eu vi meu gol de Pelé:
Edu desce pela esquerda e cruza. No meio da área, na marca do pênalti, está Pelé. A partir desse momento, a cena desenrola em câmera lenta e todos os que estavam no estádio somem da imagem; só fica a bola, Pelé, o goleiro, o gol e eu. A bola chega e encontra Pelé no alto, que com o corpo perfeitamente posicionado e olhos abertos, gira rápido a cabeça para a direita mandando a bola com força na direção do ângulo esquerdo do pobre goleiro que, em desespero, decola num longo e infrutífero voo na vã tentativa de evitar o inevitável Gol de Pelé.

Juro pra você: quando Pelé girou a cabeça para bater na bola (ele lá no alto, eu cá no chão) nossos olhares se cruzaram e naquele olhar estava escrito:

‘Esse é teu’




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