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Política

Política • 12 abr, 2020

Você conhece a história de Manoel da Costa Lima?


SAGA: Palavra certa para definir a vida de Manoel da Costa Lima, cujo nome batiza uma avenida na capital – por onde a maioria que nela transita ou não – desconhece seus feitos fantásticos próximos aos contos de ficção que motivaram essa homenagem. Usei inclusive os dados do texto de Lígia Carriço de Oliveira Lima, sua filha formada em História/Geografia no Rio de Janeiro em 1945 e que lecionou na antiga Fucmat; falecida em 2008 antes do lançamento da biográfica em 2011 no Museu de Arte Contemporânea. Coube a sua filha Eliane C. de Oliveira Lima lapidar o trabalho que sua mãe deixara.

INQUIETUDE: a marca registrada de Manoel Costa Lima em seus 88 anos de vida. Nascido em ‘Baus’ (1866) pertencente na época a Paranaíba. Sua mãe (poetisa) da Família Leal e seu pai paulista construtor de estradas, descendente do governador de Mato Grosso José da Costa Lima. Ainda moço veio para a região do Córrego Botas; dedicou-se a formação de fazendas e após contrair núpcias passou a residir na região do Anhanduizinho e Lontra. Na época a ligação comercial era só com Minas Gerais, para onde os fazendeiros levavam gado para vender. Reclamavam; a demora de 4 a 6 meses na viagem emagrecia o gado e diminuía os lucros. O desejo era vender em São Paulo.

ANO DE 1900: Incentivado por amigos ele vai à Cuiabá pedir dinheiro para construir uma estrada rumo ao Estado de São Paulo. Mas do governador Antônio Pedro Alves de Barros ganha apenas autorização para construir a estrada às suas expensas. Decidido, ele vende a própria fazenda, junta os recursos, contrata o pessoal e inicia a obra na base da machado e foice numa extensão de 325 kms até o rio Paraná (que ainda não conhecia). Em 1904 já tinha pronto o memorial descritivo apresentado ao Governo. Mas a largura (2.500 metros) do rio o surpreende e percebe que seu projeto de transporte e navegação ganhara outra dimensão, muito maior que o concebido inicialmente.

NOVO DESAFIO: Manoel vai à Concepcion, Paraguai, vende 200 reses e compra um barco a vapor que batizou de ‘Carmelita’ e mais 7 carretões. Pelo rio Paraguai entra no rio Miranda e alcança o rio Aquiadauna. Antes da cidade retira o vapor, desmonta-o    colocando-o em partes nos carroções puxados por 200 bois em sistema de rodízio rumo a Campo Grande subindo pela Serra de Maracaju. A viagem durou 60 dias. Após 3 dias de descanso em Campo Grande a viagem continuou por 15 dias até o pontal do Lontra com o Anhanduizinho.  Lá constrói uma oficina, o barco é montado e navega até chegar às águas do Anhanduí e depois o Pardo e o Paraná (Porto XV). A primeira travessia do rio Paraná ligando Mato Grosso ocorreu em 8 de outubro de 1906. Uma data histórica.

O VISIONÁRIO:  Ele não para aí. Construiu balsas currais, embarcadouros e trouxe duas ‘chatas’ incrementando o comercio dos dois lados do rio Paraná. Convidou os paulistas para ocuparem as terras da região onde surgiram cidades cuja fundação ele incentivou ou participou. Um dos exemplos é Santa Rita do Pardo onde ele chegou a instalar uma central telefônica em 1916 para atender 36 fazendas. Sua ousadia foi o marco de uma nova era nas relações comerciais e sociais do Mato Grosso, cujo Governo acabou por indeniza-lo pela estrada através da titularização das terras que ele ocupava.

LEGADO:  Para o ex-governador Fernando Correia da Costa a trajetória de Manoel da Costa Lima é digno dos feitos daqueles heróis da mitologia grega. Para o poeta Manoel de Barros os feitos dele são comparáveis a de outros personagens como o Marechal Rondon. Em 1970 as atuais BR 267 e 163 – nos trechos Porto XV-Rio Brilhante-Campo Grande foram batizadas com seu nome pelo reconhecimento de sua obra. Nosso herói não é do rol dos artificiais. É fruto de personalidade rara. Basta viajar no nosso imaginário para aferir a garra sem esmorecer diante de tantos obstáculos. Um herói sem retoques, cuja vida merece ser contada e reverenciada. Espero ter – resumidamente – proporcionado boas informações desse personagem histórico. Amei sua trajetória. 




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