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Artigos • 14 out, 2023

A epidemia digital


(por Carlos Castelo)

No passado, os influenciadores eram filósofos, escritores, artistas que moldavam o pensamento e a cultura. Agora, com a democratização da internet, qualquer um parece ter uma opinião importantíssima para compartilhar, um produto para promover ou um “look do dia” para exibir.
Armados com seus smartphones de última geração, tripés, luzes e uma infinidade de filtros, eles partem em missões diárias mostrando ao mundo sua rotina de skincare, as mil e uma formas de amarrar cadarços e a incrível capacidade de organizar gavetas.
Não há mais dúvida: uma epidemia digital está se espalhando. E milhares de influenciadores certamente já possuem infinitos vídeos fazendo considerações sobre a própria epidemia. E, com o famigerado bordão de sempre:
“Se você ainda não é inscrito no canal, inscreva-se e ative o sininho para receber notificações e não perder nenhum vídeo. Deixe o seu like, se gostou. Compartilhe com os amigos. Escreva nos comentários o que você achou e dê sugestões para os próximos vídeos.”
No começo era até interessante. Mas, de repente, parece que todos, desde o meu sobrinho de 12 anos até a vizinha do 301, que cria minhocas, decidiram que também seriam influenciadores. E não apenas para discorrer sobre moda, maquiagem ou viagens. Sobre, literalmente, tudo e mais um pouco. Eu juro que assisti, dia desses, a um cidadão ensinando maneiras mais adequadas de defecar. No ritmo que vamos, em breve teremos um webinar sobre como coçar a ponta do nariz.
Não, não é exagero. Você curte colecionar rolhas de vinho? Existe um influencer para isso. Você tem paixão por cuecas gourmetizadas? Com certeza, alguém está fazendo um tutorial sobre como gourmetizar a roupa de baixo com estilo. E a coisa mais surpreendente? Eles têm seguidores. Sim, leitor, existem pessoas reais – ou pelo menos eu acho que são – que seguem esses indivíduos para se inspirar.
Eu já posso imaginar um futuro em que cursos universitários oferecerão disciplinas como “Técnicas de persuasão e sofisma” ou “A arte de fazer um unboxing”. E enquanto os alunos se formam com honras em “Selfies II” e “Tendências de filtros”, o resto de nós, meros followers, estará se perguntando: “o que diabos aconteceu com a minha timeline?”
No entanto, a cada novo post, a única coisa que esses influenciadores estão realmente conseguindo influenciar é a minha vontade de desligar o celular.
E você, já desligou hoje?
(Publicado no O Dia)



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