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Artigos • 22 fev, 2024

A nossa bolha de sabão


(por Célio Heitor Guimarães) – 

Rússia, Eslovênia, Israel, Irã, demais palestinos em fúria, Estados Unidos da América. Está todo mundo brincando, irresponsavelmente, com o planeta em que vivemos. E aí sou remetido ao saudoso Rubem Alves. Em um volume intitulado “Pensamentos que penso quando não estou pensando” (quem, além de Rubem, seria capaz de idealizar um título assim?), na crônica que fecha o volume – “Bolha Terra Chamando…” –, o mestre confessa que mais do que a própria morte e a morte das pessoas que ele ama, o que mais lhe dói é a possibilidade da morte prematura da nossa Terra. Sim, Terra, este belo planeta tão judiado por todos nós. E o mais trágico – destaca ele – será se ela morrer antes da hora, assassinada por seus próprios filhos.

Rubem confessa o assombro dele com o nascimento de coisas tão lindas e mansas de uma enorme explosão ocorrida há 15 bilhões de anos, o Big Bang descoberto pelos cientistas: “Do caos nasceram ordem, vida e beleza,” – registra – “da mesma forma como uma bolha de sabão sai, perfeita, do canudinho que o menino sopra”.

E foi exatamente aí que ele se assustou, temendo que a bolha, tão bonita e perfeita, estoure antes da hora. Sabe o leitor por quê? Por essa desgraça que damos, animadamente, o nome de “progresso”.

— Todos os candidatos a presidente, todos, indistintamente, de direita e de esquerda, prometem “progresso” – sublinha o nosso Rubem, acrescentando: “Mas nenhum deles promete preservar a natureza. Qualquer menino sabe que a bolha de sabão é frágil. Não pode crescer sempre. Se crescer além do limite, ela estoura. E a nossa Terra é precisamente uma bolha frágil que navega pelos espaços vazios, bolha onde apareceram, miraculosamente, as condições para que a vida viesse a existir. Mas, se essas condições desaparecerem, a vida deixará de existir”.

Como de costume, continuo concordando com Rubem. E a razão dessa concordância é explicada por ele mesmo, em outro pensamento, quando responde por que se gosta de um autor: “Gosta-se de um autor quando, ao lê-lo, tem-se a experiência de comunhão”. Por isso, o leitor brasileiro tanto amou e continua amando, como eu, Rubem Alves. Parafraseando as suas próprias palavras, tão carregadas de verdade e sabedoria, ao lê-lo, nós nos lemos. Melhor: nos entendemos. “Somos do mesmo sangue, companheiros no mesmo mundo” – enfatizava ele.

Rubem sempre se disse preocupado com o planeta Terra, com os males que ele tem sofrido. E foi direto ao xis da questão:

“Muitas críticas justas já se fizeram ao capitalismo, de um ponto de vista ético, em sua tendência de produzir pobreza e concentrar riqueza. Mas raramente se fala sobre o capitalismo como um sistema autodestrutivo que, para existir e gozar de boa saúde, tem de estar num processo de crescimento constante: mais empregos, mais trabalho, mais devastação da natureza, mais monóxido de carbono no ar, mais lixo – seis bilhões de quilos de lixo por dia! –, mais exploração dos recursos naturais, mais florestas cortadas, mais poluição dos mananciais… Até quando a frágil bolha suportará?

Difícil responder quando temos entre nós, lançando bombas uns nos outros e matando impiedosamente gente inocente, gente com Vlademir Putin, Volodymir Zelensly, Benjamin Natanyahu, Ebrain Raisi, Joe Biden e outros luminares do Hamas, Fatah e assemelhados, em busca de territórios, sangue e poder.

Resta-me apenas – o que fazer? – pedir a proteção divina, quem é crédulo, ou sugerir ao amigo leitor que, se ainda não conhece, procure conhecer o mais breve possível a referida e valiosa obra de Rubem Alves. Com ela, certamente, ficará um pouco mais iluminado e, em vez de preocupar-se com o mercado, com os canalhas que nos governam, com o progresso e bobagens que tais, passe a dar mais importância aos campos verdes, ao céu azul, aos beija-flores, aos rios que escorrem entre as pedras, ao vento que balança as arvores, às flores dos jardins – coisas que tanto encantavam Rubem Alves e devem encantar a todos nós, habitantes desta maravilhosa e frágil “bolha de sabão”.

  1. S. – E a fala de Luiz Inácio, comparando o bombardeio de Israel ao território de Gaza ao Holocausto? Infeliz, sem dúvida. Tal qual a decisão de Benjamin Natanyahu, considerando Lula “persona non grata”. Não creio que o brasileiro tenha perdido o sono por isso. Até porque o que acontece na Faixa de Gaza é um autêntico genocídio, que está matando deliberadamente civis, mulheres, crianças e idosos, destruindo hospitais, escolas e creches. Pode não ser o Holocausto, e não é, mas genocídio – definido pelo Larousse como “extermínio sistemático de um grupo humano nacional, étnico ou religioso” – é. Além do mais, que tamanho tem o atual primeiro ministro de Israel para admoestar o presidente do Brasil?! Ele deveria lembrar que Israel só existe pela atuação de um brasileiro, Oswaldo Aranha, então presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas. ( Fonte – Blog do Zé Beto)



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