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Artigos • 15 mar, 2024

Anatomia de uma esquerda


(por Renato Terra, na FSP) –

Qual foi a causa da morte? Assassinato ou suicídio?

Diante do impasse, o caso da morte da esquerda foi levado a julgamento.

Diante do juiz, o promotor atribuiu a morte da esquerda ao capitalismo. “Depois da crise de 2008, ele entrou em parafuso. Afundou em radicalismos. Todo mundo sabia que ia resultar em tragédia”, argumentou, enérgico.

Em seguida, apresentou suas provas: “Essas fotos mostram como o capitalismo alimentou a insegurança de todos, principalmente nas instituições. Criou monstros com seus algoritmos. Não soube combater as fake news. O lucro incessante dos balancetes trimestrais dependia de uma desregulamentação severa e de uma concentração de renda que levaria ao caos. É uma tempestade perfeita para a criação de monstros da extrema direita”.

Depois de um alvoroço no tribunal, o advogado que sustentava a tese de suicídio apresentou uma testemunha da classe trabalhadora. “Moro na periferia de São Paulo, lá onde o Estado e a esquerda não chegam. Quem organiza a nossa vida e nos dá esperança é a Assembleia de Deus. Lá sou chamado pelo meu nome, conheci gente legal e meu filho faz aula de violão”, disse a testemunha.

Em seguida, o advogado argumentou: “As conquistas dos negros, mulheres e homossexuais foram revolucionárias nas últimas décadas. É claro que isso muda a sociedade e gera inclusão. Mas a esquerda se matou quando ficou reacionária. Fechou-se em grupos defensivos. Deixou de renovar os sonhos, de abrir possibilidade e falhou em construir uma pauta econômica adaptada ao século 21. Os pactos de bem-estar social estão ruindo, as florestas estão minguando e o planeta está ardendo. Enquanto isso, a finada esquerda não conseguiu produzir valor na soma de diferentes pensamentos de Sonia Guajajara, Tabata Amaral, Marina Silva, Glauber Braga, Vladimir Safatle”.

Spoiler: no final do filme, não importa muito se foi assassinato ou suicídio. Mas ganha um Oscar quem conseguir alimentar um novo propósito coletivo que volte a provocar brilho nos olhos dos filhos diversos que a esquerda deixou por aí.

“I don’t know what you heard about me / but a bitch can’t get a dollar out of me / no Cadillac, no perms, you can’t see/ that I’m a motherfucking P-I-M-P.”




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