Campo Grande, 28/04/2024 11:12

Blog do Manoel Afonso

Opinião e atitude no Mato Grosso do Sul

Artigos

Artigos • 23 ago, 2022

Apontar hipocrisias do outro lado é argumento preguiçoso que não prova nada


Esquerdistas se dizem contra bilionários, mas não criticam fortuna de ditadores como Chavez e Fidel. Direitistas dizem querer derrubar ditaduras, mas nada dizem sobre regimes ditatoriais de direita.

Ambientalistas se dizem preocupadíssimos com o meio ambiente, mas não abrem mão de suas viagens de avião. Liberais apregoam privatização aos quatro ventos, mas usam serviços estatais e recebem dinheiro público de bom grado.

No parágrafo anterior temos quatro belos exemplos do argumento que se tornou onipresente: apontar alguma “hipocrisia” no adversário como forma de desqualificar-lhe ou à sua causa. Nesse tipo de argumento, mostra-se que ele não pratica tudo aquilo que fala; ou então que aplica certos princípios em que diz acreditar de maneira seletiva, sendo duro com adversários e manso com aliados.

Apontar a hipocrisia alheia é um golaço retórico que rende aplausos efusivos da torcida dos que, como você, detestam o lado sendo exposto. É também um dos argumentos mais fracos e preguiçosos que você pode encontrar.

Muitas vezes a tal “hipocrisia” nem chega a ser uma incoerência real, sendo problemática apenas numa leitura feita com má-fé. Por exemplo: acusar um liberal por usar serviços estatais. Via de regra, a posição liberal é a de que os serviços seriam melhores e mais eficientes se fossem privados, e não de que haja qualquer coisa errada em usá-los quando são públicos.

Isso vale para todos os lados. Outro dia vi uma candidata de direita acusando “a esquerda” de hipocrisia por, ao mesmo tempo, condenar a fortuna de empresários bilionários, mas não a de ditadores. Mas não consta que algum “esquerdista” brasileiro aprove a fortuna, por exemplo, dos filhos de Chávez.

E a explicação mais razoável de porque a fortuna de grandes empresários é mais criticada do que a de tiranos e chefes do crime é que a dos primeiros está sob a lei, e está sujeita, portanto, às regras da sociedade e à taxação. Qual seria a relevância de se criticar a fortuna de um traficante, que a lei já proíbe?

E em alguns casos, por fim, há de fato uma tensão entre diferentes aplicações dos mesmos princípios ou entre ideais pregados e realidade vivida. Quando defensores da causa ambiental se comportam de maneiras anti-sustentáveis, fretando jatinhos (quando há voos comerciais ou passagens de trem) e jogando lixo no chão, eles de fato não praticam aquilo que pregam. Idem para cristãos que são pegos traindo seus cônjuges ou cobrando propina.

Continue lendo 




Deixe seu comentário