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Artigos • 11 abr, 2024

Argentina e Venezuela são alertas para países que ainda são ricos hoje


No meu novo livro How Nations Escape Poverty, mostro como as nações escapam da pobreza, mas também tenho alguns comentários sobre como países que antes eram muito ricos se tornaram pobres. Esses exemplos devem ser um alerta para todos nós, incluindo os EUA e a Europa.

Provavelmente não há nenhum país no mundo que tenha descido tão drasticamente nos últimos 100 anos como a Argentina. No início do século XX, a renda média per capita da população estava entre as mais altas do mundo. A expressão “riche comme un argentin” – rico como um argentino – era uma expressão comumente ouvida na época.

A queda da Argentina está intimamente associada a um nome – Coronel Juan Domingo Perón. Ele foi eleito presidente em fevereiro de 1945. Seu primeiro mandato durou até 1955. Sua agenda política: grande governo. A empresa de telefonia da Argentina foi nacionalizada, assim como suas ferrovias, seu fornecimento de energia e suas rádios privadas. Somente entre 1946 e 1949, os gastos do governo triplicaram. O número de funcionários do setor público aumentou de 243.000 em 1943 para 540.000 em 1955 – muitos empregos novos foram criados em agências governamentais e na administração civil para atender aos apoiadores do Partido Trabalhista de Perón. A política econômica era socialista: embora os volumes de passageiros e de carga para as ferrovias estagnassem, o número de funcionários aumentou mais de 50 por cento entre 1945 e 1955. Os sindicatos peronistas tornaram-se as organizações mais poderosas na Argentina ao lado do exército. A esposa de Perón, Eva Duartes, era adorada como uma heroína, distribuindo dinheiro em programas de bem-estar social abundantemente.

Ditaduras militares e governos peronistas se sucederam, mergulhando a Argentina cada vez mais em dívidas. Em 1973, Perón retornou ao poder pela terceira vez – e mais uma vez sua agenda priorizava redistribuição e forte regulação estatal. De 1976 a 1983, a Argentina foi governada pelos militares, que perseguiram brutalmente todos os membros da oposição.

Do ponto de vista econômico, a história da Argentina é caracterizada por inflação, hiperinflação, falências estatais e empobrecimento. Desde sua independência em 1816, o país enfrentou nove falências soberanas; a última delas em 2020 – uma trajetória trágica para um país tão orgulhoso, que já foi um dos mais ricos do mundo.

A boa notícia é que um número crescente de argentinos está reconhecendo que a única solução para seus problemas e para escapar da pobreza é mais capitalismo. Este é o motivo pelo qual os argentinos votaram em Javier Milei, que declara: “O Estado não é a solução. O Estado é o próprio problema”.

Outro exemplo lamentável do declínio de uma nação é a Venezuela. Enquanto, no início do século XX, ela estava entre os países mais carentes da América Latina, até o final da década de 1960, a Venezuela passou por um desenvolvimento notável. No decorrer do século XX, a Venezuela passou de um dos países mais pobres da América Latina para se tornar o mais rico. Em 1970, ela estava entre os 20 países mais ricos do mundo, com um PIB per capita superior ao de Espanha, Grécia e Israel, e apenas 13% menor do que o do Reino Unido.

A mudança do destino econômico da Venezuela começou na década de 1970. Uma das razões para os problemas do país foi sua dependência de suas enormes reservas de petróleo. No entanto, houve outras causas, como um nível excepcionalmente alto de regulamentação governamental do mercado de trabalho, que foi intensificado por ondas sucessivas de novas regulamentações a partir de 1974. O mercado de trabalho não era tão fortemente regulamentado em quase nenhum outro país da América Latina (ou de qualquer outro lugar do mundo, para falar a verdade). Partindo do ponto em que, em 1972, os custos adicionais para empregar alguém equivaliam a 5,35 meses de salário, esses custos laborais não salariais aumentaram consideravelmente, atingindo o equivalente a 8,98 meses de salário em 1992.

Mas, como demonstra o exemplo da Venezuela, quando os problemas continuam a se agravar, não significa necessariamente que as pessoas aprenderão – a história não é como um filme de Hollywood com um final feliz garantido. Ou, para colocar de outra forma: as coisas sempre podem piorar.

Muitos venezuelanos depositaram sua fé no carismático líder socialista Hugo Chávez como o salvador que libertaria o país da corrupção, pobreza e declínio econômico. Chávez foi eleito presidente em 1998. Ele não era apenas uma fonte de esperança para muitos dos pobres da Venezuela – seu discurso sobre um novo tipo de “Socialismo para o Século XXI” também reacendeu sonhos de um paraíso utópico entre os membros da esquerda europeia e norte-americana. Sabemos como essa história terminou: a Venezuela perdeu a liberdade econômica primeiro, depois a política e, até o momento, 7,5 milhões de pessoas (um quarto da população) fugiram do país socialista.

Se tudo isso pôde acontecer em países que antes eram ricos, como Argentina e Venezuela, pode acontecer em qualquer lugar.

Rainer Zitelmann é doutor em História e Sociologia. Ele é autor de 26 livros, lecionou na Universidade Livre de Berlim e foi chefe de seção de um grande jornal da Alemanha. No Brasil, publicou, em parceria com o IL, O Capitalismo não é o problema, é a solução e Em defesa do capitalismo – Desmascarando mitos.




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