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Artigos • 13 jan, 2024

Diante do mar de lama da CBF, só nos resta sonhar a utopia futebolística


(por Gustavo Alonso – Folha de São Paulo) –

E se aproveitássemos as eleições presidenciais para, com outros cargos de poder, elegermos o técnico da seleção?

A situação do futebol brasileira é tão crítica que nos força a sonhar. Diante do mar de lama que vem há anos desgastando a imagem da “pátria de chuteiras”, só nos resta a imaginação. “Sonhar não custa nada”, dizia um samba-enredo dos anos 1990. E quem sabe sonhar não ilumine o que poderíamos ser, libertando-nos da mediocridade do presente. Muitos sonhamos com um time que esteja à altura dos melhores da Europa. Eu queria mais. Gostaria de ver a força popular do futebol movimentando nossa democracia, tornando-a mais plena.

Recentemente, um escândalo de marca maior na CBF fez o dirigente Ednaldo Rodrigues cair e voltar ao poder numa maracutaia abençoada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF. Reempossado, Ednaldo trocou o técnico Fernando Diniz por Lourival Júnior. Adiantará? Estamos carecas de saber que, apesar do técnico ser importante, o calcanhar de Aquiles do futebol brasileiro não são apenas nossos técnicos, mas sobretudo a máfia instaurada há décadas na CBF.

Para subverter o mando dos dirigentes da CBF, por que não mudar a forma como se elege o técnico? Atualmente quem elege o técnico são os nossos cartolas, blindados em castelos de politicagem privada. O futebol nacional não deveria ser monopólio de meia dúzia de chefões mafiosos. Ainda somos a “pátria de chuteiras” e nos vemos um pouco como técnicos nós mesmos. E se, tal como numa democracia representativa, elegêssemos o técnico da seleção?

Vejam que maravilhosa coincidência: as Copas do Mundo usualmente (a exceção foi 2022) acontecem pouco antes das eleições presidenciais do Brasil. E se aproveitássemos as eleições presidenciais para, junto com outros cargos de poder, elegermos também o técnico da seleção?

Caso um técnico tivesse desempenho ruim, ele não poderia ser derrubado por motivo torpe. Caberia no máximo a renúncia. Espero que assim o povo compreenda que votar é um direito que também carrega ônus: é preciso nos responsabilizar pelas escolhas. Se a democracia formal ainda não fez o povo entender isso, quem sabe o futebol não seja essa porta de compreensão? Pensemos bem antes de escolher. Teremos que conviver com o técnico eleito pelos próximos quatro anos. De nada adiantará chamá-lo de “burro” nas arquibancadas.

Apesar de todos os reveses, nosso futebol ainda lateja espírito democrático. É o lugar onde negros, brancos e indígenas são iguais. Conseguimos como sociedade criar no futebol (e também na música) uma instância verdadeiramente meritocrática e democrática. Não basta ser filho de Pelé ou de Zico para ser grande jogador. É preciso provar nas quatro linhas. E a bola é redonda para todos.

O futebol pode e deve servir de guia para uma sociedade verdadeiramente democrática, onde todos tenham oportunidades iguais. Para conquistar essa utopia é preciso democratizar o futebol, fazendo valer seu latente espírito democrático também para fora das quatro linhas.

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