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Artigos • 19 jan, 2024

Futebol da África, ao contrário do europeu, celebra a humanidade nua


(por José Manuel Diogo, na FSP) –

Jogo em estádio na Costa do Marfim é mais do que disputa esportiva; é reflexo da vida em suas cores mais vibrantes

No instante em que o jogador angolano Mabululu se prepara para a cobrança do pênalti, fecho os olhos. Estou assistindo ao jogo entre Argélia e Angola na Copa Africana das Nações.

O que acontece no Estádio da Paz, em Bouaké, na Costa do Marfim, é mais do que um jogo de futebol ou uma disputa esportiva. É um reflexo da vida em suas cores mais vibrantes. Entre o silêncio tenso e o possível estrondo da celebração, vivo um turbilhão de emoções.

Com os olhos cerrados, vejo mais do que com eles abertos. Vejo um futebol despojado da frieza dos negócios, onde cada jogada é uma batida do coração da humanidade. Aqui, o riso brota com a mesma facilidade das lágrimas; é a alegria e a tristeza se entrelaçando em uma dança que celebra a nossa existência.

Penso nos homens na Europa, com seus olhares fixos em telas frias, onde o futebol é dissecado em estatísticas e estratégias. Percebo a distância entre essa abordagem e a pura emoção que me envolve. Eles estão longe da alegria simples, da tristeza genuína, da humanidade nua que se manifesta aqui, nas arquibancadas.

Ao abrir meus olhos, encaro não apenas o campo, mas uma verdade mais profunda: existe um lugar onde o futebol ainda celebra a essência da vida. Um lugar onde não são apenas os gols que contam, mas as histórias humanas que se entrelaçam a cada partida.

Nesse breve lapso de olhos fechados, redescobri algo fundamental: a vida, assim como o futebol, não deve ser apenas vivida, mas sentida em todas as suas nuances. Rir pela incerteza do que virá, chorar pela beleza de estar completamente presente.

Ao abrir meus olhos, vejo o desenlace do pênalti, mas o resultado pouco importa. O que fica é a lembrança desse instante de pura humanidade, a sensação de estar completamente vivo, completamente imerso na essência do que nos faz humanos.

A partida termina e deixo as arquibancadas de Bouaké, mas levo comigo um pedaço dessa alegria indomável, desse espírito livre que encontramos no futebol e na vida. E é essa mensagem que desejo compartilhar: que mesmo no cinzento mais opaco, podemos encontrar cores vibrantes, se apenas nos permitirmos sentir.

Lembro os olhos do goleiro no momento do pênalti.




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