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Artigos • 14 mar, 2022

Janelas e fugas


(por Thea Tavares ) – 

Venho, há tempos, formatando um conceito e um paralelo mais elaborados dessa associação. Janelas e fugas têm a ver com projeções, com anseios, distrações; Têm a ver com viagens e com as estações e suas escolhas: de onde partir? Onde aportar?

De um lado, o presente confunde-se e carrega seu passado. Do outro, emerge do enquadramento da paisagem o vislumbre de um futuro alcançável pelos passos e sinalizações que se apresentam e que presenteiam pela soma evolutiva galgada até ali.

Janelas inspiram e arrancam suspiros entranhados na alma da gente; Discretas ou indiscretas, são humanamente sinceras em seus murmurinhos, lamentos e cochichos. Também assoviam canções, que não têm letra, nem sempre fazem sentido, mas que carregam o vento dos ares de uma familiaridade incompreendida e inesquecível. Porque é cercada de mistérios e de oportunidades para a mente vasculhar, tecer descobertas ou alçar voos criativos, com coração acelerado e convidativo. Janelas transportam e libertam emoções aprisionadas por receios, incertezas, inseguranças e cômodas inconsciências.

A paisagem que corre veloz do lado de fora sempre me convida a brincar de se perguntar: se eu parasse o veículo neste ponto aleatório da estrada, que cabe na ponta e na distância do dedo, e me embrenhasse na paisagem retratada neste restrito instante, que destinos se descortinariam de tal impulso arbitrário? Quanta vida e informações se agregariam, quantas apropriações e pertencimentos derivariam do que parece ser um gesto impensado, tolo, inconsequente ou até mesmo descabido?

Janelas escondem e revelam uma vida que, lá fora, passa de bicicleta, em carros de bebês, carrinhos de catar papel ou conduzindo animais de estimação. Ela só passa, isolada ou repartida, ao tempo e à percepção dos olhares curiosos e encantados que a observam. Simplesmente passa. E as janelas captam, congelam, armazenam com suavidade esses registros.

Se fechar meus olhos, posso imaginar que, depois da moldura da janela do Casarão, o passado ainda está vivo e que, à surdina, rende homenagens a esse presente-futuro que o vinga e lhe cura algumas feridas. Outras permanecem e repartem missões e responsabilidades. Tudo se resume em ser semente em um solo fértil de resgates, aprendizados e de evolução. Continue lendo 




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