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Artigos • 12 mar, 2024

O Brasil errou o caminho de volta (por Roberto Brant)


Passado pouco mais de um ano de mandato apenas um terço da população apoia sem reservas a ação do governo. O país está polarizado

 

Nestes primeiros dias de março foi divulgada uma pesquisa da consultoria Quest sobre a avaliação do governo Lula. Os números mostram que 35% da população o avalia positivamente, enquanto 34% o avalia negativamente. Passado pouco mais de um ano de mandato apenas um terço da população apoia sem reservas a ação do governo. O país está polarizado.

Havendo uma divisão tão clara na sociedade, é justo questionar se o governo tem legitimidade para impor a toda a nação políticas e posições francamente parciais e partidárias, especialmente quando elas tem manifestamente consequências de longo prazo.

O governo Lula em algumas áreas tem se atribuído um mandato muito mais amplo do que o que recebeu das urnas. Sua vitória, por margem muito estreita, foi o resultado de uma coalizão informal que reuniu parcelas da sociedade com uma visão do mundo e do país muito diversa das posições tradicionais dele e de seu partido. Se na gestão da economia até agora as políticas do governo são coerentes com a natureza daquela coalizão, na política externa o Presidente tem extrapolado todos os limites, com alinhamentos geopolíticos e ideológicos que estão muito distantes do sentimento médio do país.

O mundo vive hoje uma nova realidade geopolítica, em que se confrontam de um lado as democracias e de outro as autocracias. O desfecho deste confronto irá moldar toda a vida humana no futuro. Diante dele todos as demais confrontações perdem significado, em especial a que deseja separar o Ocidente e o Sul Global, principalmente porque neste universo do Sul Global é evidente o domínio das autocracias, como se pode ver na composição do BRICS.

A atual orientação da política externa do Brasil procura ignorar a natureza desse confronto e se aproxima perigosamente das grandes autocracias, afastando-se dos países ocidentais democráticos. E, para tornar tudo ainda mais incompreensível, defende internamente a democracia ao mesmo tempo em que se alinha com todas as ditaduras do nosso continente.

Os exemplos estão aí. A invasão da Ucrânia pela Rússia é o mais audacioso ataque de uma autocracia contra um país democrático, tentando demolir a ordem internacional baseada em leis e em regras. O Presidente Lula, na contramão de todos os países democráticos, negou-se a afirmar a responsabilidade russa no conflito e no mais simbólico gesto de simpatia com a tirania de Putin negou-se a condenar o assassinato do líder da oposição Alexei Navalny, apesar de todas as evidências. Na luta entre as democracias e as autocracias, nosso Presidente já tomou partido, e numa direção completamente estranha ao sentimento da nossa população.

Corremos o sério risco de nos isolarmos em nosso próprio continente e no mundo ocidental. E todos no mundo esperavam “o Brasil de volta”, como prometera nosso Presidente. Acontece que erramos o caminho. ( Site Metrópoles)

 

Roberto Brant, ex-ministro da Previdência Social do governo Fernando Henrique Cardoso




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