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Artigos • 06 abr, 2022

O Índice Bacio di Latte


(por Mariliz Pereira Jorge) – 

Marca de sorvete estilo italiano está no centro de uma polêmica cretina

Depois do “Índice Big Mac”, criado em 1986 pela The Economist para comparar o poder de compra entre países, o tuiteiro inventa o “Índice Bacio di Latte”. A marca de sorvete estilo italiano está no centro de uma polêmica cretina, mas que mostra o nível da indigência intelectual presente em muitas discussões sobre desigualdade e racismo.

Uma usuária do Twitter compartilhou a foto de cinco potes da sobremesa, presentes do seu pai, e detonou uma avalanche de comentários sobre desemprego, fome, abandono paterno, privilégios. O campeão foi esse aqui: “Um pai que desembolsa R$ 300 em sorvete para a filha é provavelmente quem açoitou meu bisavô no passado”.

Você deve pensar que são exceções dentro das bolhas das redes. Não são. Esses espaços abrigam debates e vozes importantes sobre questões sociais, mas também radicais barulhentos, que erguem muros entre pessoas e ideias, afastam aliados das causas e transformam as lutas por igualdade em caricaturas.

Há muitas camadas na fala que ainda ecoam, quase quatro anos depois. Uma delas é justamente sobre o fanatismo e a cegueira presentes nos movimentos identitários, importantes alicerces do campo progressista. Já antes do pesadelo Jair Bolsonaro, vimos efeito contrário nas ações e falas que deveriam criar empatia e conscientização, mas geram distanciamento e, às vezes, ojeriza.

Não adianta os partidos de esquerda moderarem o discurso enquanto a militância vê num pote de sorvete sinais de racismo ou de desprezo pela miséria. Enquanto isso, Bolsonaro se recupera nas pesquisas.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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