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Artigos • 18 maio, 2023

Quando a imundice entra em campo


(por Célio Heitor Guimarães) 

A atual patifaria de manipulação de jogadas de futebol e aliciamento de jogadores, denominada pelo Ministério Público Federal de Goiás como “Operação Penalidade Máxima”, é bem mais grave do que parece. Pelo fato em si e pelos resultados dela advindos. Se confirmada e mantida, acabará com o futebol, já repleto de malandragens e impunidades. Se não comprovada devidamente, estará cometendo injustiças, punindo inocentes e destruindo reputações.

Por isso, há que se investigar o assunto com seriedade e clareza, ir a fundo, descobrir e denunciar os participantes, sejam eles quem forem, a rede de financiadores, as casas de apostas, os apostadores, os atletas cooptados, as torcidas organizadas, as equipes e a própria Confederação Brasileira de Futebol. E não se pode esquecer das emissoras de rádio e de TV que transmitem as partidas e os comerciais. Pelo cheiro, está todo mundo atolado no charco.

É impressionante a criatividade e o atrevimento dos delinquentes desta pátria amada e tão gentil! Chegaram ao cúmulo de criar apostas sobre lances do futebol e a conduta em campo dos jogadores profissionais. E surpresa maior é que existam idiotas que aceitem a fraude e caiam nela. Parece mais do que óbvio que se alguém coloca em aposta se o atleta A ou B vai ser advertido ou expulso e banca tal situação é porque o acontecimento já está garantido. Precisa ser muito ingênuo ou imbecil para cair nessa. Talvez a ganância imbecilize o sujeito e disso se aproveitem os marginais.

Mas, segundo os investigadores, há casos de entrega de jogos, o resultado da partida, com o aliciamento de parte da equipe. Aí está tudo perdido. Adeus futebol!

Tudo isso, porém, só tem ocorrido pela existência de casas de apostas virtuais e a ligação de clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro de Futebol com plataformas de apostas, algumas delas com seus logos estampados nos uniformes dos atletas. Segundo se informa, dos 20 times da Série A, 12 têm como patrocinador principal uma casa de aposta. É Esportes da Sorte, Betano, Pixbet, Novibet, Pari Match, Estrela-Bet, Betfair, Sportsbet, Blaze, Galera.bet e vai por aí afora. Todos esses patrocinadores pagam no mínimo R$ 10 milhões anuais para os clubes. Quer dizer: as equipes também são partícipes da patifaria.

Como se sabe, as casas de apostas têm acordos comerciais diretamente com jogadores conhecidos, que são seus garotos-propaganda em comerciais exibidos e repetidos no rádio e na televisão e se fazem presentes nas principais torcidas organizadas.

E por que isso acontece? Pela falta de fiscalização, pela maldição da jogatina, pela volúpia dos apostadores e pela certeza da impunidade, que há muito grassa no Brasil, seja lá quem for o governante de plantão.

As investigações estão ainda no início, circunscritas a conversas telefônicas entre os marginais, mas alguns atletas já foram punidos, afastados da atividades pelos clubes, para tirarem os seus da seringa. No Paraná, dois do Coritiba e dois do Athletico. E aí reside o outro perigo citado no início deste texto. Estarão inocentes pagando pelo que não fizeram? Tudo é possível.

E aí a hipótese remete-me, nas devidas proporções, aos tenebrosos tempos da ditadura fardada, em que pessoas que não simpatizavam com o vizinho denunciam-no à polícia ou ao poder militar, como comunista ou corrupto, sem qualquer prova, e lá ia o indicado preso, desaparecia nos presídios, sem nenhuma justificativa ao aprisionado ou informação à família. Época de terror, que jamais poderá voltar.




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