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Artigos • 10 abr, 2023

Quando a mente está doente, o corpo perde sua capacidade de execução


(por Tostão) – 

No mundo do futebol e em parte da sociedade, a depressão é vista como uma fraqueza moral

Uma das principais qualidades de Messi, que o torna superior a Maradona e a outros grandes craques, é a regularidade, por brilhar intensamente, há mais de 15 anos. A história mostra também que são muitos os excepcionais atletas que, sem uma clara razão, tiveram enormes e precoces quedas técnicas nas suas carreiras.

Luan, que foi eleito o melhor jogador da América do Sul quando atuava no Grêmio, não está relacionado entre os 50 escritos pelo Corinthians na Libertadores. Há muitos anos, Luan, quando entra em campo, nada faz. No Grêmio, do meio para a frente, ele era a conexão entre os jogadores. A sua enorme queda foi técnica, física, emocional, tática, por não se adaptar ao novo time, ou tudo isso?

Hazard, depois de ser um dos principais destaques do Chelsea, da seleção da Bélgica e do futebol mundial, desapareceu no Real Madrid, que gastou uma fortuna para contratá-lo. Quando entra em campo, é um expectador da partida. Qual seria o principal motivo do seu declínio que dura anos?

Mesmo assim, Ronaldinho foi grande destaque do Atlético MG e de outros clubes, mas, como a expectativa era tão grande, de que ele jogasse como no Barcelona, falavam que ele atuava mal. Será que o período no Barcelona foi atípico, uma exceção, por ele ter tido no time e na cidade as condições ideais para seu futebol exuberante e de muita fantasia?

Adriano, o Imperador, teve também uma curta e excepcional carreira. Haaland lembra Adriano, pela grande altura, pela precisão nos fortíssimos chutes e pelo número enorme de gols. Dizem que Adriano desistiu de ser um atleta e que teria falado várias vezes que gostava mais de sua vida na favela do que de ser uma estrela mundial.

Quando a mente está doente, o corpo perde a capacidade de executar o que deseja. O corpo é a conexão com a mente. Na goleada do Real Madrid sobre o Barcelona por 4 a 0, as conexões da mente e do corpo entre Vinicius Junior, Benzema e Modric foram magistrais, uma celebração da beleza e do talento individual e coletivo do futebol.

Outros grandes atletas do futebol e de outros esportes e profissionais de variadas áreas tiveram também, em pouco tempo, enormes declínios técnicos e financeiros. Uma das razões principais é a perda do desejo, da ambição, do grande esforço de tornar-se a cada dia melhor.

Esse desânimo pode estar relacionado às dificuldades da profissão, como a enorme pressão para ganhar sempre, o que resultou na desistência de alguns atletas olímpicos. Mais grave ainda seria uma situação mais ampla, a diminuição do prazer de viver.

Freud, em um longo trabalho sobre variados profissionais que tiveram grandes declínios técnicos e financeiros em suas carreiras, concluiu que era frequente nessas pessoas um sentimento de culpa real e/ou imaginário, por elas não se sentirem capazes e merecedoras do prestígio e do dinheiro que tinham conquistado.

A depressão e outros problemas mentais são frequentes e precisam ser diagnosticados e tratados por profissionais especializados. Infelizmente, no mundo do futebol e em parte da sociedade, a depressão é vista mais como uma fraqueza moral, não como uma doença.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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