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Artigos • 16 jun, 2020

Quem sobreviverá ao novo tsunami político?


Seu João é aposentado. Recebe um salário mínimo. Tem pressão alta e um inchaço nas pernas que limita seus movimentos. Dona Maria, sua esposa, é diabética. Possuem três filhos.

Moram todos numa casa de cinco cômodos. Cozinha, sala, banheiro e dois quartos apertados. O filho do meio está preso por tentativa de feminicídio. O mais novo foi demitido no início da pandemia. Mora com a esposa e os dois filhos pequenos num dos quartos. Ela é diarista. Seus dias de trabalho foram reduzidos drasticamente.

No sábado à noite o clima é de desânimo. Pouco dinheiro e medo do vírus ameaçador. Ligam a TV e veem os políticos trocando tapas. O presidente critica os governadores. O STF critica Bolsonaro. Briga por todo lado. Além da polícia federal “autônoma e imparcial” muito ativa nos estados.

A família não entende muito de política, nem gosta. Na matéria seguinte, fica assustada vendo manifestações de rua com brigas e até apedrejamento. Tudo parece fora do lugar.

Muita gente não entendeu o que estava acontecendo quando multidões ocuparam as ruas em junho de 2013 – há quem diga que o movimento foi construído de fora para dentro do país, orquestrado através das mídias sociais.

A poderosa onda antissistema foi capturada pela extrema direita e cresceu. Chegou ao pico com o discurso “udenista-libertador-salvacionista” da Lava Jato e com o extermínio da política pela grande mídia.

Duas quedas históricas do PIB empobreceram a família do seu João e da dona Maria. Para eles, a culpa é dos políticos. A onda de ressentimento popular engoliu o sistema, abrindo um imenso buraco.

Dele emergiu um personagem falando “absurdos originais”, “muito diferente dos políticos que pioraram a nossa vida”. Que tal arriscar?

Se as estimativas forem confirmadas, teremos, infelizmente, mais de 100 mil brasileiros mortos. Fecharemos o ano com 23 milhões de desempregados. Um cenário dramático.

Quem sobreviverá ao novo tsunami? Já são mais de 30 anos de democracia e o país parece um motor engasgado, desorientado. Dá uns pulos pra frente, “tosse” e recua.

Seu João escolheu Lula, viu seus sonhos derreterem com Dilma e votou em Bolsonaro. Nunca esteve tão ansioso. Discute todo dia com o seu otimismo teimoso.

O capitão é o surfista que remou na onda. Como domá-la? Enfurecida, ela pode acabar engolindo-o. Ele irá sozinho? Os que ocupam o centro do ringue serão poupados pela dona Maria? Se a onda decidir tragar o sistema novamente, o que virá?

É hora de dormir. Cada um vai para o seu cômodo. O “boa noite” com um beijo na testa toca o coração. A angústia brota. Ninguém sabe como o dia seguinte amanhecerá.

Ricardo Cappeli – Congresso em foco




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