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Política • 19 mar, 2023

Quem Foi que Inventou o Brasil?: Franklin recuperou a voz da rua


(por Elio Gaspari) – 

Livro resgata canções das senzalas e do abolicionismo

Está nas livrarias “Quem Foi que Inventou o Brasil”, do jornalista e ex-ministro Franklin Martins. A pergunta é do compositor Lamartine Babo em 1934 e, na resposta de Franklin, o povo canta. Nesse volume, ele coletou 296 canções, indo da Independência à República, com algumas dezenas tratando da escravidão e do racismo.

A história de Pindorama deve muito à música. Basta dizer que o hino da Independência tem letra de um jornalista político (Evaristo da Veiga) e música de d. Pedro 1º. Graças à música, conhece-se também o “Batuque de Palmares”, tão candidato que foi proibido em 1839:

“Folga nego, branco num vem cá
Se vié, pau há de levá.”

O ex-ministro Franklin Martins durante evento no Teatro Eva Herz, em São Paulo – Bruno Poletti – 15.set.2016/Folhapress
Com a colaboração de João Nabuco ao piano, foram trazidas de volta inúmeras canções, inclusive as “Cantigas Báquicas”, compostas em 1826 por José Bonifácio de Andrada, o poderoso ministro da Independência, exilado na França.

Episódios que o andar de cima trata com gravidade, no de baixo as coisas eram mais simples. Quando o Banco do Brasil quebrou, em 1829, a rua cantava “piolhos, ratos e ladrões”. Quase meio século depois, quando quebrou um grande banco privado do Rio, cantava-se:

“E quem há de nos valer
Em momento tão sinistro?
Ah! Já sei, corramos todos
Ao palácio do ministro.”

No livro cantam os revoltosos dos Farrapos, da Balaiada e da Praieira. Cantam também os defensores da ordem:

“Fora farrapos, fora
Não mais venham competir
Pedro Segundo não quer
Os Farrapos no Brasil.”

Demófobos festejando a polícia do Rio parece coisa de hoje, mas em 1839 um lundu cantava:

“Já foi-se o tempo
De mendigar.
Fora, vadios,
Vão trabalhar!”

Noutra ponta do imaginário do poder, em 1857, quando se falava das virtudes do Império, a rua respondia:

“Hoje tudo são progressos
Da famosa ladroeira.”

Franklin Martins enriqueceu a erudição histórica de seu trabalho com um olhar político sobre a grande questão do século 19, a escravidão. O grande momento do livro está no resgate de canções das senzalas e do abolicionismo. Lá estão as canções de Pai João:

“Nosso preto quando fruta
Vai pará na correção
Sinhô baranco quando fruta
Logo sai sinhô barão.”

Pesquisador generoso, Franklin transcreveu 37 canções relacionadas com a escravidão e o racismo. Delas, 33 estão disponíveis, de graça, como todas as outras, no site Quem foi que inventou o Brasil?. (No total, o site oferece 1.400 canções, um tesouro.)

Os interessados que tiverem algum tempo podem ouvir vozes da história que, em muitos casos, os livros contam de raspão. O prazer da audição fica incompleto sem a leitura dos verbetes dos livros. No que acaba de ser lançado, aprende-se que algumas canções foram resgatadas por Mário de Andrade. Ou ainda que, em 1949, o professor americano Stanley Stein recuperou as cantorias de velhos jongos. Stein pesquisava a história do café de Vassouras, mas, de quebra, legou esses documentos sonoros.

EREMILDO, O IDIOTA

Eremildo é um idiota e aderiu ao movimento Respeito à Magistratura liderado por juízes que não querem voltar ao trabalho presencial. O cretino é contra todas as formas de trabalho, inclusive o virtual, e acredita que o movimento é um bom começo para viabilizar sua agenda.

Os juízes não querem comparecer ao local de trabalho e ameaçam dizendo que uma carta, defendendo essa prerrogativa, já tem o apoio de 800 magistrados. Seus nomes, contudo, não são conhecidos. O idiota encantou-se com esse detalhe. Não querem dar expediente no serviço e protestam e não comparecem nem ao menos com suas assinaturas.

Eremildo fez uma pesquisa no seu círculo de amizades, formado por pessoas que têm horror ao trabalho. Ficou com a suspeita de que a nascente desse glorioso movimento está num grupo de magistrados da Justiça do Trabalho. Os mais incomodados com o trabalho presencial são juízes que respondem por varas num estado e moram em outro.

Se a ideia prosperar, Eremildo disparará um manifesto com o apoio de 40 milhões de contribuintes que estão preenchendo suas declarações de Imposto de Renda, intitulado Respeito aos idiotas.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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