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Política • 07 mar, 2024

Riedel manda recolher livro polêmico das bibliotecas de escolas estaduais


A exemplo do Rio Grande do Sul e do Paraná, livro sobre sexo e racismo foi censurado em Mato Grosso do Sul

Mato Grosso do Sul resolveu abolir o livro  ‘O Avesso da Pele’, do escritor e professor Jeferson Tenório, das escolas estaduais. A obra da editora Companhia das Letras, tem sido questionada, por usar palavrões e ser adotada pelo Ministério da Educação como parte do Programa Nacional do Livro e do Material Didático, desde 2022.

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que o próprio governador Eduardo Riedel determinou a retirada das bibliotecas da Rede Estadual de Ensino. “Por determinação do governador Eduardo Riedel, e após avaliação da SED da obra ‘O avesso da pele’, distribuída pelo Ministério da Educação, haverá recolhimento imediato dos exemplares”, afirmou.

Segundo a SED, o livro já havia sido enviado para 75 das 349 unidades escolares da Rede Estadual de Ensino. Mas depois de reclamações de deputados, a obra será retirada, assim como aconteceu no Paraná e no Rio Grande do Sul.

A principal alegação é que, por conta de palavras de baixo calão, usadas pelos personagens centrais, para falar de sexo, comprometem o uso da obra em ambiente escolas. “A medida se dá em função da linguagem utilizada em trechos do referido material, contendo expressões consideradas impróprias para a faixa etária da maioria dos estudantes atendidos pela REE (menores de 18 anos), com o uso de termos e jargões que inviabilizam a utilização pedagógica no ambiente escolar”.

Agora, os livros ficarão no acervo da Secretaria de Estado de Educação.

Ganhador do Jabuti, principal prêmio literário brasileiro, o livro trabalha identidade, racismo e violência como temas centrais. Mas nesta semana o deputado Rinaldo Modesto resolveu engrossar o levante contra a obra, chamando o romance de “nojento”.

Na Assembleia Legislativa, disse que recebeu várias ligações de pais, indignados com o conteúdo. Hoje, ele comemorou a decisão do Estado. “O governador Eduardo Riedel me ligou ontem, disse que leu o livro e também achou impróprio. Por isso, mandou retirar das escolas”, contou.

Rinaldo vai mais longe, diz que nem maiores de idade deveriam ter acesso ao romance literário. “Não deveria estar em nenhuma biblioteca de universidade e muito menos de escolas. É inadmissível. Tá mais para contos eróticos do que programa didática. Quero parabenizar o governador pela agilidade para retirar os exemplares”.

A história narrada é de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado em uma abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Ambientado na Bahia, o personagem e as pessoas em torno da trama , usam palavras normalmente utilizadas em rodas de conversas de amigos, mas consideradas de baixo calão por parlamentares Brasil a fora.

Em um dos trechos criticados, o livro fala sobre as relações inter-raciais. Em conversa entre primas, uma branca que namora um preto e questionada sobre o tamanho do pênis dele, já que os negros tem fama de “insaciáveis”. Em outra parte, a reclamação é quanto à frase “chupa tua branquinha, chupa teu nego”.

O avesso da polêmica – Segundo o jornal Folha de São Paulo, depois da polêmica, as vendas de “O Avesso da Pele”, aumentaram em 400% na Amazon desde sexta-feira. Por R$ 50 em média, hoje é um do livros brasileiros mais vendidos no País.

Em entrevista ao UOL, o Jeferson Tenório disse que não está surpreso com a reação, porque em 2022 o romance já virou polêmica em Salvador e ele chegou a ser ameaçado de morte. “Pinçam trechos e falam em livro erótico, o que não é verdade. O livro é uma crítica à branquitude, à forma como os brancos enxergam os negros e isso passa pela sexualização, sobre a forma como o branco vê um corpo preto”,  diz.

Na opinião dele, só quem perde é a escola, porque perde a oportuinidade de falar sobre sexualidade. “O problema não é a palavra usada e a falta de interesse em discutir o assunto que é tão pertinente. A questão no Brasil é que todo mundo virou especialista em literatura. Nenhuma autoridade tem o poder de tirar da escola um livro enviado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático”, avalia.

Por Ângela Kempfer e Gabriela Couto




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