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Artigos • 03 jan, 2024

A Inteligência Artificial e o emburrecimento humano


(por Mariliz Pereira Jorge, na FSP) –

Em Paris, milhares registraram os fogos de artifício em vez de se abraçarem no Réveillon

Mergulhar com tubarão-baleia era um sonho. E aconteceu depois de um ano e meio de preparação, numa viagem ao México. Na hora, não sabia se aproveitava o momento ou se tentava capturar a imagem daquele que é a maior espécie de peixe. O vídeo ficou péssimo, claro, e eu tive uma experiência pela metade. Uma imbecilidade. A pessoa tem a oportunidade de encarar uma criatura deslumbrante e quer fazer uma selfie.

Tão estúpida quanto os milhares que lotaram a avenida Champs-Élysées para acompanhar o Réveillon, em Paris. Cada com seu celular apontado para o Arco do Triunfo. No exato momento, em que os relógios marcam a virada do ano, em que tradicionalmente estamos em comunhão, renovamos votos, fortalecemos laços, não houve abraços, beijos, explosões de champanhes. Mas há milhares de fotos. Fotos iguais e sem vida.

É uma imagem impactante, perfeita para representar o zeitgeist. É o raio-X do espírito do tempo intelectual, sociológico e cultural em que vivemos. O momento da história em que, como sociedade, é mais importante registrar a vida do que vivê-la plenamente. Estamos mais preocupados em mostrar que parecemos felizes do que em saborear os momentos de felicidade. Deixamos de nos entreter e viramos entretenimento.

O FOMO (fear of missing out), medo de não acompanhar os acontecimentos e, portanto, ter a necessidade de estar sempre conectado, parece ter tido um upgrade importante: se não postei, não vivi. Com esse comportamento ganhamos em conexões sociais e em engajamento. O paradoxo disso é que quanto mais tempo nas redes, mais isolamento, ansiedade e depressão.

O último ano foi marcado pela preocupação sobre o impacto da Inteligência Artificial em nossas vidas. Tão urgente quanto é tentar minimizar o processo de emburrecimento pelo qual passa a humanidade. Perdeu-se a capacidade de interpretar texto, conversar civilizadamente, ouvir o interlocutor e, trágico, viver o presente.




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