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Política • 17 out, 2022

MEDICINA MEDIEVAL


(por Lygia Maria) –

Ao proibir prescrição do canabidiol, CFM mostra que ainda está na idade das trevas

Há algo de podre no reino do Conselho Federal de Medicina (CFM). Não satisfeito em liberar prescrição de cloroquina na pandemia —indo contra a OMS—, agora proibiu a indicação médica do canabidiol (CBD), princípio ativo da maconha com uso medicinal atestado pela ciência.

A resolução da entidade autoriza a prescrição só para crianças e adolescentes diagnosticados com dois tipos de epilepsia ou com esclerose tuberosa.

Considerando que o CBD ameniza sintomas de diversas doenças e condições clínicas (esclerose múltipla, Parkinson, Alzheimer, autismo, fibromialgia, glaucoma, asma, insônia, depressão, alguns tipos de câncer, náuseas causadas por quimioterapia), a resolução funciona, na prática, como proibição extensa.

A gama de transtornos aliviados com o CBD é grande porque nosso corpo possui um mecanismo de comunicação entre os neurônios chamado de sistema endocanabinoide, que regula as relações que o organismo mantém com o mundo externo (emoções, memória, humor, dores, apetite). Ou seja, produzimos canabinoides naturalmente (“endo”, do grego “éndon”, significa “dentro”).

CBD é um entre dezenas de canabinoides da maconha; o outro mais conhecido é o THC. O CBD não produz efeito alucinógeno, o THC sim, e o preconceito contra a planta advém desse efeito. Uma contradição, já que outras substâncias que alteram a consciência, como o álcool, são legalizadas.

Assim, a resolução do CFM é não apenas um atestado de preconceito como também de ignorância científica. Além disso, demonstra desprezo pelo sofrimento de milhares de pacientes (em 2021, a Anvisa concedeu 32.416 liberações de importação de CBD), algo inaceitável vindo de uma entidade que representa a atividade médica.

Sobre a maconha, o cientista inglês Robert Hooke disse, durante discurso na Royal Society, em 1689: “não há motivo para medo, embora possa haver para riso”. Lá se vão mais de três séculos e o CFM ainda está no escuro, com medo.

*Publicado na Folha de S.Paulo




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